Memórias do antigo hospital de Angra reunidas em livro
19 de set. de 2020, 09:00
— Cátia Carvalho/AO Online
A
ideia de “criar um acervo de memórias e imagens que permitissem
humanizar a ruína e dignificar a memória” do antigo edifício do
Hospital de Santo Espírito de Angra do Heroísmo partiu do psicólogo
clínico Filipe Fernandes. A ele juntou-se António Araújo, o
designer de comunicação que fotografou os 43 rostos que aceitaram
partilhar os seus testemunhos.
“Entre
a Vida e a Memória: Histórias de um Hospital” reúne “um
espectro muito alargado de vivências, desde o nascimento até à
morte. É uma espécie de viagem pela vida e pela forma como lidamos
com ela em determinados momentos”, conta António Araújo.
O
projeto, patrocinado pela AGOJ Investimentos Lda, atual proprietária
do espaço, permite “que independentemente das metamorfoses que
aconteçam naquele espaço, permaneça um documento que honre o
património humano que encerra”, sublinha Filipe Fernandes.
Para
recolher as histórias que figuram no livro, Filipe Fernandes e
António Araújo começaram pelas suas redes de amigos, “as reações
foram, quase sem exceção, de confiança e encorajamento em relação
ao projeto e aos seus propósitos”, refere o psicólogo
acrescentando que “o objetivo foi criar um mosaico onde constassem
diversas visões, quer de profissionais de saúde do hospital, quer
de utentes, quer de outras profissões relacionadas com a dinâmica
hospitalar. Entre os participantes existem médicos, enfermeiros, um
agente funerário e até a primeira pessoa que nasceu naquele
hospital”.
Fotografar
nos mesmos espaços, agora degradados, “foi forte e marcante”,
partilha António Araújo explicando que “de repente as pessoas
eram confrontadas com umas ruínas que outrora tiveram vida. As
memórias tomavam conta das nossas conversas até chegarmos ao ‘local
do crime’. Ficou definido, logo de início, que os retratos seriam
feitos nos locais onde as histórias aconteceram, era fundamental que
as emoções guardadas durante estes anos todos ficassem registadas
nos seus rostos para que a fotografia fosse mais sentida e
intimista”.
O
fotógrafo resume ainda que “foi um privilégio receber todas as
pessoas, estes momentos de partilha vão ficar sempre connosco,
aprendemos muito com eles, guardamos momentos muito especiais e
tocantes e tudo isto graças a este projeto”.
Um
projeto “sobre pessoas para pessoas” que Filipe Fernandes espera
agora “ser apropriado pela comunidade” simbolizando assim “o
culminar de todo o trabalho desenvolvido e a concretização do
mesmo”.
Paralelamente
ao livro, o projeto conta também com o lançamento de um website, já
no próximo mês de outubro e uma exposição na Biblioteca Pública
e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro em Angra do Heroísmo
agendada para o último trimestre do ano