Meloni tenta ser ponte entre UE e EUA com visita a Trump e receção a Vance
Tarifas
15 de abr. de 2025, 15:22
— Lusa/AO Online
A
líder do Governo de direita e extrema-direita de Itália e do partido
pós-fascista Irmãos de Itália, e próxima do Presidente norte-americano
Donald Trump – foi a única chefe de governo da UE a estar presente na
sua tomada de posse em janeiro passado -, realiza uma “visita oficial de
trabalho” a Washington na quinta-feira, regressando de imediato a Roma
para, na sexta-feira, receber o vice-presidente JD Vance.A
deslocação de Meloni a Washington ocorre num momento de acentuadas
tensões comerciais depois dos anúncios de Trump de imposição de taxas de
25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e de 20% em tarifas
recíprocas ao bloco comunitário.No
entanto, a suspensão das tarifas recíprocas à Europa por 90 dias,
entretanto anunciada pelos EUA, que levou a UE a suspender por igual
período as tarifas de 25% a produtos norte-americanos que adotara como
resposta, abriu uma janela diplomática e de negociação que a
primeira-ministra italiana - a primeira líder europeia a encontrar-se
com Trump desde o anúncio na ‘pausa’ nas taxas - quer aproveitar.Contudo,
muitos analistas consideram que Meloni enfrenta uma missão quase
impossível, e a sua deslocação à Casa Branca é olhada com reservas por
alguns parceiros europeus, com França à cabeça, e severamente criticada
pela oposição italiana, que acusa a primeira-ministra de ser “o cavalo
de Troia” de Trump e do magnata Elon Musk – de quem também é muito
próxima – dentro do bloco europeu.“Se
começarmos a ter conversações bilaterais, esta dinâmica [de unidade
europeia] que está presente neste momento acabará por se quebrar. É um
risco que tem estado presente desde o início, porque sabemos que Donald
Trump tem uma estratégia bastante clara e simples: dividir os europeus.
Perante este risco, temos de estar unidos, porque a Europa só é forte se
estiver unida”, comentou recentemente o ministro francês da Indústria,
Marc Ferracci.Já fontes diplomáticas
europeias consideram que a visita não é problemática desde que Meloni
não se limite a transmitir a sua mensagem nacional, mas também “a linha
oficial da UE”.As críticas à deslocação de
Meloni a Washington são rebatidas pelo Governo italiano, com fontes do
gabinete da primeira-ministra a garantirem que esta “não vai a
Washington para minar o processo europeu, mas para usar a sua boa
relação [com Trump] para ajudar a facilitar uma negociação europeia”.Como
trunfos negociais, Giorgia Meloni deverá mostrar abertura em Washington
para um aumento da compra de gás natural liquefeito dos Estados Unidos
por parte dos europeus, assim como apoio à ideia de que parte
substancial dos fundos financiados com dívida europeia para a compra
conjunta de equipamento militar por vários países se destine aos EUA.Vários
analistas apontam a proximidade entre ambos, até a nível ideológico,
mas salientam que a primeira-ministra italiana supostamente representará
também os interesses da UE, bloco que Trump afrontou repetidamente.Embora
oficialmente o bloco comunitário apoie a iniciativa de Meloni, com o
tradicional argumento de que todos os esforços diplomáticos para evitar a
escalada da guerra comercial são bem-vindos, Bruxelas e ‘pesos-pesados’
como França e Alemanha recusam ficar à margem de negociações com
Washington e seguirão com particular atenção os desenvolvimentos deste
encontro bilateral. Na segunda-feira, um
porta-voz da Comissão Europeia, lembrando que a negociação de acordos
comerciais é da competência exclusiva do executivo comunitário, mas
sustentando que todos os contactos são bem-vindos, garantiu que a
presidente Ursula Von der Leyen tem estado em “contacto regular” com
Meloni em relação a esta missão.