Autor: Lusa/AO Online
Meloni falava numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo albanês, Edi Rama, no final da primeira cimeira intergovernamental de sempre entre os governos de Itália e Albânia, celebrada em Roma, e na qual foram assinados vários acordos bilaterais para reforçar a cooperação económica entre os dois países nos domínios das infraestruturas, defesa e segurança, migração, energia, ambiente, saúde, inovação e formação.
Esta cimeira teve lugar sensivelmente dois anos depois da assinatura do controverso acordo para a criação de centros de migrantes em território albanês geridos pelas autoridades italianas, que, embora inaugurados há cerca de um ano - em outubro de 2024 -, permanecem praticamente vazios, face a várias decisões judiciais contrárias ao envio de migrantes irregulares de Itália para a Albânia.
As deliberações dos tribunais forçaram o Governo de Meloni a transformar os centros de deportação em estruturas de repatriamento de requerentes de asilo já com ordem de expulsão de Itália.
Contudo, Meloni, que lidera um governo de direita e extrema-direita que tem como uma das suas principais bandeiras o combate à imigração ilegal, voltou a defender o protocolo de externalização da gestão dos fluxos migratórios, considerando que o mesmo “tem o potencial de mudar o paradigma da gestão da imigração”, e asseverou que os dois centros irão funcionar a partir do momento em que o novo Pacto da União Europeia (UE) sobre Migração e Asilo entrar em vigor, o que está previsto para junho do próximo ano.
“Quando o pacto sobre migração e asilo entrar em vigor, os centros na Albânia funcionarão como deveriam desde o início. Teremos desperdiçado dois anos para acabar exatamente como estávamos no início. Não é minha responsabilidade. Dois anos depois, estaremos a fazer exatamente o que poderíamos ter feito dois anos antes. Acho que todos assumirão as suas próprias responsabilidades”, disse.
Segundo Meloni, “nem todos compreenderam a validade deste modelo” e “muitos estão a trabalhar para o retardar ou bloquear”, mas, garantiu, não terão sucesso, até porque, reiterou, o protocolo entre Itália e Albânia é “um acordo europeu de grande alcance”, que muitos Estados-membros da UE querem replicar.
“O primeiro-ministro Rama pode testemunhar que várias nações europeias há muito que tentam aderir à iniciativa do Protocolo Itália-Albânia, porque todos compreendem que uma iniciativa deste tipo é revolucionária para a gestão dos fluxos migratórios”, disse.
Os dois centros para migrantes construídos na Albânia estão localizados em Shengjin (um ponto de identificação) e Gjader (um centro maior, para detenção e gestão de pedidos de asilo), mas, um ano após a sua inauguração, estão praticamente vazios, o que tem gerado muitas críticas dos partidos da oposição em Itália, dado o Governo ter investido mais de 700 milhões neste projeto.
A ideia original era
deslocalizar para a Albânia centros de acolhimento para deportação de
imigrantes clandestinos resgatados no mar - somente homens considerados
"saudáveis" e provenientes de “países seguros”, ficando excluídos
mulheres e crianças -, mas, por mais de uma vez, os navios da Marinha
italiana tiveram de fazer regressar os imigrantes transferidos para
Gadjer por decisões de tribunais italianos, o que provocou um conflito
aceso, ainda em curso, entre o Governo de Meloni e o poder judicial.