Autor: Lusa/AO Online
“Já é muito difícil dizermos que não estamos numa segunda vaga se olharmos para a nossa curva. Está claramente a subir (…). A França está numa típica segunda vaga (…) e chegam-nos sinais preocupantes de Espanha, do mesmo país que nos antecipou o que estava a acontecer na primeira vaga. O que é que há de diferente neste momento em Portugal [em relação ao pico de março, abril ou maio]? A população que é atingida e a taxa de letalidade que tem sido menor agora”, referiu Nelson Pereira, médico do serviço de urgência do Hospital de São João.
À conversa com a agência Lusa, enquanto analisa gráficos de vários países europeus e descreve os passos que o São João está a dar no combate ao novo coronavírus, o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do centro hospitalar que chegou a receber 350 casos suspeitos de covid-19 num só dia na chamada “primeira vaga” de infeção aproveita para deixar apelos.
“Tenho uma mágoa, uma angústia, que é os jovens não terem percebido que têm um papel social e fundamental a desempenhar. Não peço para que as pessoas fiquem fechadas dentro de casa, mas acho que não se conseguiu transmitir uma consciência de que, ainda assim e com algumas cautelas, é possível conviver”, refere.
Este reparo é sublinhado pela diretora do serviço de urgência do mesmo hospital, Cristina Marujo, que admitindo que o período de confinamento “pode ter pesado” às diferentes gerações “de forma diferente com maior ou menor dificuldade”, lamenta a falta daquele “bocadinho mais de consciência que, se tivesse ficado, se traduziria mais no agir e nos cuidados a ter”.
“Vamos continuar a ter grupos que se
reúnem sem máscara – às vezes apetece dar uns abanões –, mas revolta não
sinto. Se calhar fomos nós que não passamos a mensagem. Basta essa
mensagem passar, esse comportamento melhorar, e isso refletir-se-á no
tipo de população infetada e na [taxa de] letalidade [do vírus]”, aponta
a especialista.