Médicos do São João defendem que manter cuidados é atualmente a “única vacina”
Covid-19
22 de set. de 2020, 16:06
— Lusa/AO Online
“Já é muito difícil dizermos que não estamos
numa segunda vaga se olharmos para a nossa curva. Está claramente a
subir (…). A França está numa típica segunda vaga (…) e chegam-nos
sinais preocupantes de Espanha, do mesmo país que nos antecipou o que
estava a acontecer na primeira vaga. O que é que há de diferente neste
momento em Portugal [em relação ao pico de março, abril ou maio]? A
população que é atingida e a taxa de letalidade que tem sido menor
agora”, referiu Nelson Pereira, médico do serviço de urgência do
Hospital de São João.À conversa com a
agência Lusa, enquanto analisa gráficos de vários países europeus e
descreve os passos que o São João está a dar no combate ao novo
coronavírus, o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e
Medicina Intensiva do centro hospitalar que chegou a receber 350 casos
suspeitos de covid-19 num só dia na chamada “primeira vaga” de infeção
aproveita para deixar apelos.“Tenho uma
mágoa, uma angústia, que é os jovens não terem percebido que têm um
papel social e fundamental a desempenhar. Não peço para que as pessoas
fiquem fechadas dentro de casa, mas acho que não se conseguiu transmitir
uma consciência de que, ainda assim e com algumas cautelas, é possível
conviver”, refere.Este reparo é sublinhado
pela diretora do serviço de urgência do mesmo hospital, Cristina
Marujo, que admitindo que o período de confinamento “pode ter pesado” às
diferentes gerações “de forma diferente com maior ou menor
dificuldade”, lamenta a falta daquele “bocadinho mais de consciência
que, se tivesse ficado, se traduziria mais no agir e nos cuidados a
ter”.“Vamos continuar a ter grupos que se
reúnem sem máscara – às vezes apetece dar uns abanões –, mas revolta não
sinto. Se calhar fomos nós que não passamos a mensagem. Basta essa
mensagem passar, esse comportamento melhorar, e isso refletir-se-á no
tipo de população infetada e na [taxa de] letalidade [do vírus]”, aponta
a especialista.