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Mau tempo levou a quebra de 40% na produção de mel

Produtores da Casermel tiveram um mau ano de produção em 2021, devido ao mau tempo. A isso, junta-se a redução da flora apícola


Autor: Rui Jorge Cabral

A Casermel - Cooperativa de Apicultores e Sericicultores de São Miguel registou no ano passado uma quebra de 40% na produção de mel por comparação com 2020.
O principal motivo para esta quebra na produção foi o mau tempo, com chuva e ventos fortes que se prolongaram até ao início do verão, prejudicando a floração das plantas.
Assim, em cerca de mil colmeias pertencentes aos associados da Casermel, foram obtidas durante o ano de 2021 apenas cerca de seis toneladas de mel, das quais 80% são para auto-consumo.

Conforme afirma em declarações ao Açoriano Oriental o presidente da direção da Casermel, Alfredo Martins, esta quebra na produção de mel durante o ano passado deveu-se sobretudo a dois fatores.

“Nós temos o famoso mel de incenso, único no mundo, mas basta um pouco de mau tempo na altura de março/abril que, por ser uma flor muito frágil, o mel de incenso desaparece, porque as flores desaparecem”, explica Alfredo Martins.

A juntar a este fator e após o período da recolha do mel de incenso, na altura de junho/julho, “quando era suposto termos uma boa floração das outras plantas que surgem por essa altura, voltou a haver muita chuva e umas plantas acabaram por não florir e outras não  permitiram a saída das abelhas para a recolha do mel”, acrescenta o presidente da direção da Casermel.

A estes fatores específicos do ano passado, Alfredo Martins acrescenta ainda outro fator, este estrutural, que é o da “cada vez maior degradação da flora apícola”, de que é exemplo, no caso concreto da ilha de São Miguel, o facto de “termos uma ilha verde, mas não termos flores, uma vez que temos muita pastagem, mas as pastagens antigas de trevo desapareceram pela adubação intensa, sendo que hoje temos ervas que dão uma espiga para uso animal”.

O efeito desta situação, afirma Alfredo Martins, é o de “se falarmos com apicultores mais antigos, há cerca de 30 anos, uma colmeia poderia produzir cerca de 40 quilos de mel por ano e hoje se produzir 15 quilos, já é muito bom”.

Mesmo assim, o presidente da direção da Casermel afirma que é preciso não deixar morrer a apicultura e, por isso, a cooperativa tem desenvolvido ações de formação para a sensibilização das pessoas e para a angariação de novos produtores.

Alfredo Martins lembra ainda que a ilha de São Miguel é uma das seis ilhas dos Açores indemne à varroa - um parasite que afeta as colmeias em todo o mundo - o que dispensa o uso de medicamentos para o tratamento do mel e coloca o mel de São Miguel como um produto muito valorizado em mercados  como o alemão ou o francês, com destaque para o mel de incenso, que em todo o mundo só é produzido nos Açores, essencialmente em São Miguel.


Casermel anseia por terreno para poder construir central meleira

A Casermel - Cooperativa de Apicultores e Sericicultores de São Miguel persegue há quatro anos o objetivo de poder construir uma central meleira, onde os seus produtores possam extrair o mel em condições industriais, que são essenciais para comercialização do mel no exterior.

Em declarações ao Açoriano Oriental, o presidente da direção da Casermel, Alfredo Martins, lembra que “já andamos há quatro anos a tentar junto do Governo, que já se disponibilizou para nos ceder um terreno para termos uma central meleira, sendo aliás São Miguel a única ilha que não tem instalações para a extração de mel de forma comunitária, apesar de ser a maior produtora de mel”.

Nesta melaria industrial seria extraído e tratado o mel de todos os associados da Casermel, o que seria essencial para que os pequenos produtores de São Miguel pudessem também comercializar o seu mel para fora da Região e não apenas para o mercado local.