Material feito com óleo de cozinha e enxofre absorve mercúrio que polui água e solos
28 de ago. de 2017, 18:03
— Lusa/AO online
Gonçalo Bernardes, do Instituto de
Medicina Molecular, em Lisboa, e cientistas da Universidade de Flinders,
na Austrália, obtiveram este material poroso, misturando óleo para
fritar alimentos com enxofre, um subproduto da indústria petrolífera,
numa solução a 180ºC. Ao fim de 20 minutos, e após a adição de
sal a equipa conseguiu ter um material esponjoso, feito com poluentes,
capaz de capturar mercúrio, um outro poluente, existente na água, no
solo e na atmosfera. Gonçalo Bernardes, investigador do
laboratório de Biologia Química e Biotecnologia Farmacêutica do
Instituto de Medicina Molecular, disse à Lusa que se trata de um
material fácil e barato de produzir e "supereficiente para remover
mercúrio", bastando "o contacto com superfícies que estejam altamente
poluídas". O cientista assinalou que, apesar de estar em contacto com o mercúrio, o novo material "não é tóxico". Em
novembro, o material poroso de polissulfureto vai começar a ser testado
na Indonésia, onde os agricultores fazem a queima de mercúrio durante a
recolha de amálgamas de ouro. Gonçalo Bernardes lembrou, a este
propósito, que cerca de 15 por cento do ouro mundial é recolhido, de
forma artesanal, por agricultores do Sudeste Asiático e da América do
Sul, que levam as amálgamas para casa e as colocam numa panela com água a
ferver para que o mercúrio se liberte no vapor. "E a família,
em casa, está a inalar mercúrio, que é altamente tóxico", relatou,
acrescentando que "há muita demência" nestas regiões por ação deste
poluente, também presente em pesticidas usados nas plantações de
cana-do-açúcar do Brasil, da Índia e da Austrália e em oleodutos
instalados no fundo do mar. Os resultados do trabalho
desenvolvido pelos investigadores portugueses e australianos foram
publicados na revista da especialidade Chemistry.