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Marta Cabral: “Gosto que me digam que sou fotógrafa de expressões, emoções e sentimentos”

A fotógrafa terceirense Marta Cabral divide o ano entre os Açores e Lisboa. Já fotografou marcas e personalidades nacionais. Abriu recentemente um estúdio em Lisboa mas é a luz dos Açores que mais a inspira.



Autor: Tatiana Ourique / Açoriano Oriental

Marta Cabral nasceu na Praia da Vitória, licenciou-se em Marketing e Publicidade na IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, e completou uma pós-graduação em Comunicação e Imagem. Trabalhou 3 anos na área de formação, mas cedo percebeu que a sua paixão era “criar e documentar” histórias e pessoas sob a luz dos Açores. A fotógrafa divide o seu ano entre a região e Lisboa, onde recentemente abriu um estúdio para novas vivências fotográficas.

 

Marta Cabral, a fotógrafa terceirense de 34 anos, começou por ser autodidata. A fotografia nasceu da curiosidade: “surge por brincadeira, por experiências, pelo digital, pela rapidez de resultado. Surge com o boom de criatividade que ia descobrindo na Internet, que me inspirava imenso e fez-me ter vontade de pertencer a uma comunidade. Na fotografia conseguia criar, documentar e para mim fazia sentido explorar e querer aprender muito mais todos os dias”, adiantou em entrevista ao Açoriano Oriental.

 

É durante a dificuldade de estabilizar no mercado de trabalho que Marta decide apostar na arte de fotografar: “podia apostar na fotografia porque, apesar de saber que teria de trabalhar 10 vezes mais, pelo menos seria algo que sabia fazer, que podia melhorar e que amava fazer”, acrescenta.

 

É apaixonada por Lisboa, mas é nos Açores que encontra a sua luz de eleição: “Será sempre a luz, o quente e frio, a brisa e bruma dos nossos Açores. Essa será sempre a maior inspiração. Isso e o romantismo, o drama e o lifestyle de Paris. Sempre que posso regresso lá para este recarregamento de inspiração”, revela Marta Cabral.

 

A fotógrafa terceirense- amplamente requisitada também em São Miguel- enumera, ainda, os fotógrafos que segue e admira: “passa sempre por quem fotografa com luz idêntica à dos Açores. Posso dar nomes como Sandie Boloto, madeirense que vive em Paris e retrata histórias de amor de forma incrível, a icónica Annie Leibovitz, que faz retratos das maiores personalidades do mundo como ninguém, Maley, fotógrafo ucraniano, incrível com casais e famílias. Entre tantos outros sempre num registo que joga com a realidade e intemporalidade”, refere ao Açoriano Oriental.

 

Marta Cabral garante acreditar na força e no poder das imagens. “Uma imagem conta histórias, podemos interpretá-la de mil formas. Uma fotografia tem uma força incrível. Com a minha fotografia quero mesmo que sintam isso, que é a força de um momento no tempo que não se repete, mas a imagem fica e isso é extraordinário”.

 

Gosta mais de fotografar “seres humanos, famílias que crescem, mulheres que se transformam. A gratidão que sinto é estar presente, assistir tão de perto os dias mais felizes de alguém e saber que faço a diferença. É por isto que continuo a fotografar.  Casamentos, estado de gravidez da mulher e retrato feminino Boudoir. Exatamente por esta ordem. Nada me deixa mais feliz!”, garante a fotógrafa.

 

Questionada sobre o motivo que leva a uma agenda tão preenchida, Marta Cabral reconhece o seu registo diferenciador: “Eu sei que tenho um registo muito dramático, misturando com amor, muita realidade. Há quem fale muito de luz na fotografia e eu gosto de falar em sombras, recortes, luz quase inexistente. Gosto que me digam que sou fotógrafa de expressões, emoções e sentimentos. Sei ler pessoas e quero usar a fotografia como ferramenta para mostrar como são, através da minha perceção. Com a minha fotografia quero projetar o reflexo de quem estou a fotografar. Reflexo este que nem sabem que existe. É o que acontece muitas vezes com a minha fotografia de Boudoir, por exemplo: trazer à tona o melhor do retrato feminino, ultrapassar limites de forma a revelar o melhor da mulher. É uma transformação inacreditável!”

 

A artista açoriana garante que o seu caminho é assente, sobretudo, em fidelidade: “Quando comecei a ser fiel ao que gosto e não seguir modas e tendências. Percebi a minha preferência através de muito trabalho, de experiências, ler muito, ver fotografias, cinema. A partir do momento que me deixei de comparar a outros eu senti de imediato que estava a atingir aquilo que me define e que me diferencia. Tem sido uma jornada incrível e ainda tenho muito para percorrer”.

 

A fotógrafa praiense abriu, recentemente, um estúdio em Lisboa. O objetivo era, mais uma vez, sair da sua zona de conforto. “O pior que podia acontecer seria não gostar da experiência, deixar o estúdio e seguir em frente. Mas apostei no estúdio e fui surpreendida. Foi a melhor decisão que tomei este ano e é para continuar.”

 

O ano divide-se entre a “urbe” lisboeta e os Açores porque aprendeu a conjugar o melhor dos dois mundos: “A vida na cidade ensina-me tanto todos os dias e os meses de inverno são muito compensatórios em Lisboa.  No entanto, nos Açores encontro o meu núcleo, onde me recarrego e tenho o maior volume de trabalho, especialmente verão. O verão nos Açores é obrigatório para mim. A minha casa e conforto. Sou tão feliz sempre que estou nos Açores. Sinto-me inspirada, com mais energia, mais acarinhada. E não há gente como a gente. Sabemos tirar o maior proveito da insularidade. Nas ilhas há sempre tempo para tudo e só isso me chega para voltar sempre”, diz.

 

Sobre a aposta no exigente mercado dos casamentos, Marta admite que foi cautelosa. “Percebi que me identificava com o tipo de imagem de casamento que estava a surgir. Era 2014 e a fotografia de casamento em Portugal (e no mundo) estava a evoluir drasticamente para uma fotografia mais pessoal, mais documental, mais emotiva. Desde logo me identifiquei e tive uma força e vontade muito fortes para querer experimentar. Eu sabia que poderia ser capaz, apesar de ser uma grande responsabilidade.  Mais uma vez foi um tiro no escuro, mas optei por aprender com quem sabe. Fui assistente da fotógrafa Maria Rão e aí aprendi um mundo novo”.  Um mundo onde o maior segredo é ter calma. “Saber tranquilizar, se for necessário.  Acima de tudo saber também me divertir, conectar-me com as pessoas, famílias, amigos. Nestes dias quero ser amiga, irmã”.

 

Em pouco mais de 10 anos de carreira, Marta Cabral conta já com algumas colaborações nacionais: “posso destacar a Tezenis, que me fez ir a Verona. Destaco também a Voke, marca nacional, que me ensinou muito sobre produções de moda e me deu sempre asas para ser criativa.  Das últimas marcas com que trabalhei foi a Sumol, que se projetou no público mais jovem. Fez me perceber sobre a sede de trabalho das gerações mais jovens, artistas com muito talento. Aprendi também muito sobre retrato com algumas das bloggers mais influentes como Mafalda de Castro e Bárbara Inês”.

Marta Cabral já fotografou personalidades como Ana Garcia Martins, Carolina Carvalho, Isaura Quevedo, Mia Rose, Ana Rita Clara e Rui Sinel de Cordes.

 

 

Sobre ser mulher na fotografia

 

Não diria difícil. É desafiante. É um mundo que durante muitos anos foi liderado por homens, é natural a desconfiança ou estranheza ao ver uma mulher a fotografar tão bem como qualquer homem. Agora já não me incomoda, mas há uns anos duvidarem do meu trabalho por ser mulher era motivo para eu duvidar de mim mesma. Aprendemos a superar, a transformar tudo isto em força para melhorar, provar a nós mesmos. E é o que acontece. Executar o mesmo trabalho, a mesma mestria que qualquer pessoa. Hoje em dia, a nível nacional, somos tantas e há tanta entre ajuda que me sinto verdadeiramente orgulhosa por fazer parte desta comunidade. 

 

Há um ano que pertenço a um coletivo de fotógrafas e videógrafas de casamento em Portugal, a WOW - Women in Weddings. É uma comunidade onde podemos partilhar e ajudar mutuamente. É um trabalho tão solitário e esta comunidade veio combater isso e validar mais as nossas capacidades e a nossa arte.