Marina do Parque das Nações sem estratégia 20 anos depois de inaugurada
2 de abr. de 2018, 09:29
— Lusa/AO online
"A
Marina do Parque das Nações viveu os últimos seis anos sem estratégia,
sem de facto poder olhar para o futuro e decidir o que fazer", desde que
foi decidida a extinção da Parque Expo, disse à agência Lusa o
presidente da Associação Náutica da Marina do Parque das Nações (ANMPN).A
extinção formal da empresa criada em 1993 para construir, explorar e
desmantelar a Expo'98 foi anunciado para o final de 2016, cinco anos
depois de a então ministra do Ambiente, Assunção Cristas, ter anunciado o
fim, a prazo, daquela empresa pública que ficou responsável pela gestão
urbana da agora freguesia do Parque das Nações.Na
opinião de Paulo Andrade, existe agora a "necessidade de adaptar a
marina à realidade de agora, em 2018, e não à realidade que foi pensada
em 1998, na altura da exposição, há cerca de 20 anos a esta parte"."Na
altura pensava-se em ter uma marina com cerca de mil lugares, com o
edifício Nau dedicado às atividades da marina, e as duas bacias a
funcionar. E aquilo a que se chegou à conclusão é que de facto o mercado
não cresceu tanto como se esperava, e há que olhar para o contrato de
concessão e refazê-lo de uma forma diferente daquela que foi a inicial",
explicou à Lusa.Para a ANMPN, o novo contrato de concessão deverá ter em conta três realidades, para o equipamento "voltar a ter futuro".A
primeira prende-se com a "bacia sul, onde está neste momento a marina, e
pensar de facto apenas nesta área para a dinamizar, adaptando a
realidade à procura local".Quanto
à bacia norte, a associação entende que "não tem sentido" continuar a
pensá-la "como uma extensão da bacia sul, porque efetivamente a bacia
sul é suficiente" para acolher as embarcações que procuram aquela
infraestrutura.Desta
forma, seria possível voltar a olhar para projetos que já foram
apresentados, "e que não tiveram possibilidade de andar porque não
estavam de acordo com o contrato de concessão", elencou Paulo Andrade,
apontando que "alguns deles [eram] bastante interessantes e que
efetivamente permitiam uma dinâmica muito grande na bacia norte, e uma
atratividade subjacente".A
terceira realidade a ter em conta, segundo a ANMPN, é o edifício Nau,
que "de acordo com o contrato de concessão, está dedicado apenas a
atividades ligadas à marina", o que "deixou de fazer sentido".Para
a associação, "o seu objeto social tem de ser mais abrangente", para
"abarcar outras atividades que permitam dinamizar este espaço".Porém,
"neste momento, não vejo nenhum concessionário, nenhuma entidade,
nenhuma empresa que venha pegar na situação em que isto está por mais 10
anos, porque nunca ia ter o retorno do investimento", defendeu Paulo
Andrade.Outro dos problemas que a marina enfrenta é a necessidade de "manutenção periódica, nomeadamente o desassoreamento"."A
marina neste momento tem grande parte da bacia sul que está assoreada,
precisa de um trabalho de manutenção frequente, de modo a criar
condições para a operação da marina", precisou o presidente.Também
ouvido pela Lusa, o presidente da Associação de Moradores e
Comerciantes do Parque das Nações defendeu que, com a extinção da Parque
Expo, "a marina está neste momento em terra de ninguém", e é "um
bacalhau com asas", dada a "indefinição total" que atravessa.Figueiredo
Costa falou também num mau cheiro que se sente quando "há baixa-mar e
se começam a ver as lamas", e numa "grande preocupação em termos do
desenvolvimento económico" daquela zona da cidade."Isto
aqui esteve sempre planeado para estar rodeado quer de lojas, quer de
cafés, quer de ambiente porque tem as infraestruturas todas para, quer o
comércio, quer o turismo terem um potencial de desenvolvimento aqui
enorme, e sem atividade na marina não há nada à volta", precisou
Figueiredo Costa.A Marina do Parque das Nações chegou a estar encerrada e sem gestão durante oito anos, tendo reaberto em 2009.Depois
de anos de abandono e processos em tribunal, o equipamento voltou a
acolher a atividade náutica na sequência de um investimento de 14
milhões de euros.A Lusa tentou marcar uma entrevista com a administração da Marina do Parque das Nações, mas não obteve resposta.