Marcelo quer voto eletrónico e por correspondência e mais eleitos pela emigração
Presidenciais
18 de jan. de 2021, 12:33
— Lusa/AO Online
O
Presidente da República e recandidato ao cargo assume estas posições
numa entrevista ao Lusojornal, um portal de notícias franco-português
que também é editado em papel, dedicado aos portugueses e outras
comunidades lusófonas residentes em França.Nesta
entrevista, divulgada no domingo, Marcelo Rebelo de Sousa aponta a
necessidade de "reforma da Administração Pública" como um dos principais
problemas do país, afirmando que tem sido "atirada para a frente" por
vários governos e que isso se traduz, por exemplo, nos tempos de espera
para a renovação do cartão do cidadão.Questionado
se concorda que em eleições presidenciais os portugueses residentes no
estrangeiro só possam votar presencialmente, nos locais onde funcionam
mesas de voto, na véspera ou no dia do ato eleitoral, o candidato
apoiado por PSD e CDS-PP responde que nunca concordou com isso. "Acho
que é não ter a noção das coisas", declara, salientando que "o voto
presencial é impossível para um número elevadíssimo de portugueses
espalhados pelo mundo" e lamentando a "desconfiança" em relação ao voto
por correspondência, que no seu entender é erradamente associado a
fraude."O voto por correspondência é
praticado por inúmeros países, é perfeitamente corrente, é natural, há
forma de realmente fazer respeitar sempre a legalidade e a
constitucionalidade no voto por correspondência. Infelizmente, esta
ideia ainda continua a não ser aceite por muito boa gente e, portanto,
temos um sistema que não facilita o voto, dificulta, o que é um absurdo,
porque aumentámos o número de recenseados num milhão", refere.Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o sistema atual "vai ter de ser alterado porque, de outra forma, afasta as pessoas do voto"."Na
próxima alteração da lei eleitoral tem de ser rediscutida a matéria,
que já foi discutida muitas vezes, e vamos ver se faz vencimento a ideia
de que o voto pode ser por correspondência", acrescenta.O
antigo presidente do PSD recorda que quando exerceu essas funções fez
um acordo com o PS então liderado pelo secretário-geral das Nações
Unidas, António Guterres, para permitir o voto de emigrantes nas
presidenciais, o que na altura "era quase considerado um pecado".Interrogado,
depois, se o voto eletrónico poderia ser uma solução, Marcelo Rebelo de
Sousa declara-se "defensor" da sua introdução em Portugal, embora seja
"ultraminoritário" nesta matéria."Nós para
votarmos não aceitamos o digital, é uma coisa verdadeiramente do
arco-da-velha", critica. "De repente, temos uns atavismos, uns
conservadorismos, uns ultraconservadorismos incompreensíveis, para
pioneiros", reforça, após destacar que Portugal tem sido o palco da
cimeira tecnológica Web Summit.Na sua
opinião, também "não faz sentido" que os emigrantes não estejam
contemplados no voto antecipado em mobilidade, o que tem de ser alterado
na lei eleitoral. "É a mesma desconfiança
que leva a que eles só possam ter tantos deputados, mesmo que
proporcionalmente sejam em termos de eleitores um número tal que
justifique na Assembleia da República haver mais deputados", sustenta,
manifestando-se contra essa limitação.Nos
termos da lei eleitoral para a Assembleia da República, dos 230
deputados, "o número total de deputados pelos círculos eleitorais do
território nacional é de 226, distribuídos proporcionalmente ao número
de eleitores de cada círculo", enquanto os residentes no estrangeiro
"são agrupados em dois círculos eleitorais", cada um dos quais com "dois
deputados", independentemente do respetivo número de eleitores
inscritos.De acordo com o professor
catedrático de direito jubilado, "é evidente" que isto configura uma
discriminação dos emigrantes face aos eleitores dos outros círculos, que
poderia ser admitida "no tempo da Maria Cachucha", quando quem estava
longe do país tinha menos acesso a informação sobre o que acontece em
Portugal, mas atualmente "não há razão para isso". "Eu
acho que a única razão que há para isso é um problema de mentalidade.
As pessoas não perceberem que o mundo mudou, e ao mudar tem de haver
fórmulas de participação política diferentes daquelas que existiam antes
de o mundo mudar", defende.No final desta
entrevista, o chefe de Estado e candidato presidencial pede aos
portugueses residentes no estrangeiro que "não deixem de votar, se
puderem, em qualquer um dos sete candidatos", dizendo que são "todos
eles respeitáveis", porque o voto "é uma ligação à pátria, mesmo quando a
pátria não trata muito bem".Os outros
candidatos às eleições presidenciais de domingo são Ana Gomes, Marisa
Matias, João Ferreira, André Ventura, Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino
Silva.