Marcelo fala de Portugal e Brasil como realidades inseparáveis com territórios partilhados
8 de set. de 2022, 11:02
— Inês Escobar de Lima/Lusa/AO Online
Num
discurso na Associação Portuguesa de Brasília, em Taguatinga, no
Distrito Federal, Marcelo Rebelo de Sousa justificou uma vez mais a sua
presença nas comemorações dos 200 anos da independência do Brasil e
destacou um aspeto do desfile do 07 de Setembro a que assistiu de manhã
ao lado do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro."Que
orgulho, que orgulho ver desfilar hoje nas avenidas de Brasília as
bandeiras de Portugal desde a fundação, as bandeiras do tempo da
monarquia portuguesa até ao momento em que o Brasil se separou de
Portugal. Pois o Brasil ao comemorar essa separação faz um desfile com
as bandeiras de Portugal que eram também do Brasil antes da separação.
Porquê? Porque assume a sua História", declarou.O
Presidente português acrescentou que "já havia Brasil quando Pedro
Álvares Cabral aqui chegou, já havia, mas o Brasil passou a ser
diferente também com o contributo dos portugueses após essa chegada, e
durante séculos aqui se criou uma amizade fraternal para sempre, para
sempre"."Há 200 anos foi um português quem
proclamou o grito do Ipiranga, um filho de rei, príncipe, que se rebela
contra o seu pai, dando voz àquilo que era a vontade de independência
do povo brasileiro", referiu, recebendo palmas da audiência composta por
emigrantes portugueses e luso-brasileiros.D.
Pedro assumiu em 1822 "a missão difícil de ser o primeiro imperador do
Brasil" e é preciso compreender "a importância desse gesto", defendeu."A
Espanha também esteve aqui, na América Central e na América do Sul, só
que não nasceu um Estado dessa presença, nasceram vários Estados. Aqui
há um só Estado, poderoso, unido, feito por brasileiros e feito por
portugueses bandeirantes que percorreram quilómetros e quilómetros para o
interior levando as fronteiras do futuro Estado até onde elas estão – e
chegaram a ir mais além, como sabem", prosseguiu.Segundo
o Presidente português, "a unidade do Brasil tem muito a ver com o
facto de a corte de Portugal ter vindo para o Brasil", situação singular
em que "Portugal passou a ser durante um tempo em termos políticos
colónia do Brasil: a corte estava aqui, as instituições de poder do
império estavam aqui".No seu entender,
"isso contribuiu para a unidade territorial, mas contribuiu também para
uma relação secular entre as nações irmãs".Ao
chegar à Associação Portuguesa de Brasília, criada em 1962, Marcelo
Rebelo de Sousa disse que "isto é Portugal" e depois na sua intervenção
retomou a ideia de que se encontrava "em território português" e
sustentou que as duas realidades "são inseparáveis, onde há Portugal há
Brasil, onde há Brasil há Portugal".O
chefe de Estado português levou esta imagem mais longe, afirmando que
"todo o Brasil no fundo é território português, e todo o Portugal é
território brasileiro"."Mas há territórios
que são especialmente portugueses: a embaixada, os consulados, e onde
estiver um português, uma comunidade de portugueses, uma associação
portuguesa. Aqui é chão português", reforçou.Marcelo
Rebelo de Sousa elogiou as "várias gerações" de emigrantes portugueses
no Brasil, "aqui contribuindo para a ordem e progresso que está no lema
da nação brasileira", e assinalou a recente vaga de imigração do Brasil
para Portugal, concluindo que existe uma ligação que "é imparável"
quaisquer que seja os presidentes e os governos."O
que têm os responsáveis dos povos é de perceber a realidade e atuar em
função dela, de acordo com ela", argumentou, para justificar a sua
presença nas comemorações deste bicentenário, que coincidem com a
campanha para a eleição do próximo Presidente do Brasil."Eu tenho a impressão que muitos não entendem o momento histórico", lamentou-se.