Marcelo aplaudido em São Paulo ao defender que "saída para a pobreza é a cultura"

3 de jul. de 2022, 12:59 — Lusa /AO Online

Marcelo Rebelo de Sousa fez esta intervenção na abertura oficial da 26.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no sábado à noite, já de madrugada em Lisboa, numa cerimónia em que várias vezes se ouviu gritar "fora Bolsonaro".O chefe de Estado procurou falar mais pausadamente, pronunciando as palavras e construindo as frases um pouco ao jeito brasileiro: "Prometi aqui vir para a Bienal, 26.ª Bienal. Prometi e cumpri. Político deve ser assim. Não sei se é muitas vezes, mas deve ser assim"."Em minha casa, minha mãe era de esquerda, assistente social, socialista. Meu pai era de direita, médico, salazarista. Tinham em comum uma coisa, liam livros, e isso fazia a diferença", disse, explicando que assim nasceu o seu amor pelos livros.Ao longo de cerca de meia hora, Marcelo Rebelo de Sousa contou como aos 15 anos começou a formar a sua biblioteca, colecionando livros antigos, como enquanto professor universitário recomendava e oferecia livros como prémios escolares e na comunicação social promoveu a leitura, considerando, porém, que tudo isso "era pouco"."Entendi que devia fazer mais. Fiz-me editor. Foi aliás a aventura mais desgraçada da minha vida financeira, porque era muito feliz e perdia muito dinheiro, mas perdia com alegria", declarou, provocando risos na audiência.A propósito dos problemas de editores e autores, apelou para se "continuar a investir no apoio à tradução – não apenas à edição, mas à tradução".Por fim, o Presidente da República falou da biblioteca que criou em Celorico de Basto, no distrito de Braga, quando "era o município mais pobre de Portugal", que hoje está "a caminho de 300 mil volumes", assinalando também que "já não é o mais pobre nem é dos mais pobres".Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "significa que foi uma opção inteligente para sair da pobreza começar pela leitura, para sair da pobreza começar pela educação"."A melhor saída para a pobreza, a mais duradoura, a mais transformadora é a cultura", reforçou, recebendo palmas."É a cultura, porque a cultura implica sempre, se for verdadeira e profunda, liberdade e democracia. E é isso que permite o uso da liberdade de expressão, o direito à crítica, que permite o fomento de alternativas, de diferenças, o respeito do princípio de que não há duas pessoas iguais. Somos todos iguais, mas todos diferentes", defendeu.O Presidente da República referiu que os pais viveram em são Paulo de 1974 a 1993 e que com o 25 de Abril "a família ficou dividida" em relação à revolução, mas soube ainda assim conviver: "Continuámos civilizadamente a dar-nos porque tínhamos lido livros"."Porque ler livros é enriquecer com cultura, é respeitar a tolerância, é cultivar a liberdade. É, mesmo em ditadura, admitir o pluralismo que deve corresponder a pensar diferente. E é isso que faz a diferença entre as sociedades que avançam e as sociedades que não avançam. É a cultura. Não é só a economia, não é só a finança, não é só o panorama social, que é fundamental", sustentou.No fim do discurso, o chefe de Estado destacou a Festa do Livro que lançou nos jardins do Palácio de Belém, em colaboração com os editores.Marcelo Rebelo de Sousa prometeu levar o amor pelos livros "até ao fim da vida" e acrescentou que prefere "ser recordado como alguém que amou apaixonadamente o livro e alguém que foi apaixonadamente professor do que ter sido membro do Governo, responsável municipal, Presidente da República"."Tudo isso é muito importante e é uma responsabilidade cimeira, mas é transitória. Nós somos transitórios nas funções que exercemos", assinalou, argumentando ainda que "os líderes são importantes, mas são os povos que escrevem a história".O Presidente da República chegou no sábado de manhã ao Rio de Janeiro, para participar numa cerimónia comemorativa da travessia aérea do Atlântico Sul feita há cem anos por Sacadura Cabral e Gago Coutinho, e depois seguiu para São Paulo, onde hoje tem uma agenda intensa.