Marcelo alerta para confusão entre comunicação política e científica
4 de nov. de 2020, 20:52
— Lusa/AO online
No
encerramento do "Encontro Ciência 2020", em que interveio por
videoconferência, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que neste quadro de
pandemia de covid-19, "da ótica dos destinatários da comunicação, nem
sempre foi clara a delimitação de fronteiras entre o papel dos
cientistas e o papel dos políticos".O
chefe de Estado afirmou que "os cientistas, naturalmente, foram chamados
a formular propostas e sugestões para decisão política" e que "os
políticos algumas vezes se socorreram dos cientistas para abonarem as
suas decisões ou para justificarem 'a posteriori' atuações ou omissões" "Este
é um problema sensível, que é um problema não apenas de ética, mas
também de compreensão do relacionamento, em momentos críticos como está a
ser esta pandemia, entre quem decide politicamente, quem estuda e
aconselha cientificamente. É um problema este recorrente, é um problema
muito complexo nas suas vertentes, e é um problema tanto mais complexo
quanto as solicitações forem diárias, semanais, mensais, ao longo de um
período indeterminado de tempo", acrescentou.Marcelo
Rebelo de Sousa apontou "o tratamento pela comunicação social" dos
discursos científico e político como "uma terceira realidade", e alertou
que "a junção das três realidades ao longo da pandemia" provoca
"problemas muito complexos".Num discurso
em que observou que "esta pandemia está a levar muito mais tempo do que
se pensava, e é imprevisível a evolução" que irá ter, o Presidente da
República advertiu depois para "momentos não racionais" que surgem
nestas conjunturas."Durante uma pandemia,
múltiplos momentos são essencialmente emocionais, para não dizer
irracionais, e as perceções são emocionais - sobre dados científicos,
sobre comunicações científicas, sobre decisões políticas, sobre
fundamentações científicas de decisões políticas, e sobre o seu
tratamento pela comunicação social", referiu."Vivemos
hoje em diversas sociedades democráticas momentos de irracionalidade. E
esses momentos não são fecundos para o avanço da ciência", reforçou.Neste
contexto, o chefe de Estado fez um apelo: "Que no nosso país, como na
Europa, como um pouco por todas as democracias, possamos assistir, no
presente e no futuro próximo, ao triunfo do multilateralismo, da
abertura, do aprofundamento da mentalidade científica, da preocupação
com a coesão social, com a afirmação da liberdade e com o primado da
razão".De acordo com Marcelo Rebelo de
Sousa, "só há verdadeiramente avanço científico se houver numa sociedade
abertura ao universal" e "o unilateralismo, o isolacionismo, o
hipernacionalismo são a negação do espírito científico". Na
sua intervenção, o Presidente da República fez também uma chamada de
atenção para a importância da coesão social, considerando que "o avanço
científico é tanto maior quanto menores forem as desigualdades sociais
numa comunidade".Este encontro foi
promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia em colaboração com
a Ciência Viva e a Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto
da Assembleia da República, com apoio institucional do Governo através
do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.