Manutenção de escolas fechadas a meninas é uma deceção
Afeganistão
23 de mar. de 2022, 18:11
— Lusa/AO Online
“Partilho a
profunda frustração e deceção das meninas e estudantes do ensino
secundário afegão que, após seis meses de espera, foram impedidas de
voltar à escola hoje”, disse a alta-comissária das Nações Unidas para os
Direitos Humanos, Michelle Bachelet, em comunicado.“A
incapacidade das autoridades de facto de cumprir o seu compromisso -
apesar das repetidas promessas a favor da educação das meninas,
inclusive durante a minha visita a Cabul, há duas semanas - é
profundamente prejudicial ao Afeganistão”, criticou.No
final de agosto, Bachelet avisou os talibãs que o tratamento das
mulheres constitui uma “linha vermelha” na aceitação das autoridades
afegãs, tendo pedido hoje “que seja respeitado o direito à educação de
todas as meninas e abertas as escolas a todos os alunos sem
discriminação ou atrasos adicionais”.“A
negação do direito à educação viola os direitos humanos de mulheres e
meninas” e “expõe-nas mais à violência, pobreza e exploração”, acusou a
alta-comissária da ONU.“Esta situação é
muito preocupante numa altura em que o país precisa desesperadamente de
ultrapassar múltiplas crises”, sublinhou, insistindo que “é
contraproducente e injusto privar metade da população afegã de qualquer
poder”.Michele Bachelet também avisou que
esta discriminação é prejudicial para as perspetivas de recuperação e
desenvolvimento do país.O anúncio do fecho das escolas às meninas afegãs foi feito no dia de reabertura das aulas, depois das férias de inverno.“As
escolas para as raparigas adolescentes entre o 7.º e 12.º anos (dos 12
aos 18 anos de idade) vão continuar fechadas”, anunciou hoje o porta-voz
adjunto do Governo dos talibãs, Inamullag Samangani.O
Ministério da Educação afegão tinha prometido reiniciar as aulas para
raparigas em várias províncias, incluindo em Cabul, mas avisou que
“precisava de tempo para garantir que as adolescentes eram separadas dos
rapazes e que as escolas funcionavam de acordo com os princípios
islâmicos”.A comunidade internacional fez
do direito à educação para todos uma condição indispensável para
continuar as negociações para ajuda e reconhecimento do regime
fundamentalista islâmico.Já em janeiro, a
organização humanitária Human Rights Watch (HRW) concluía que a subida
ao poder dos talibãs estava a ter um impacto especialmente negativo na
vida e nos direitos das mulheres afegãs.Logo
“nas semanas que se seguiram à tomada do poder, as autoridades talibãs
anunciaram uma série de políticas e regulamentos que reverteram os
direitos das mulheres e das meninas”, incluindo o acesso ao emprego, à
educação e à reunião pacífica, referia na altura a organização.Mesmo
“quando as mulheres são autorizadas a voltar ao trabalho, enfrentam
exigentes regras de segregação de género e, desde setembro, estão
sujeitas ao novo Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção de
Vícios, que substituiu e eliminou o Ministério dos Assuntos da Mulher.O
novo ministério foi encarregue de “fazer cumprir as regras de
comportamento dos cidadãos, incluindo a forma como as mulheres se vestem
e a proibição de saírem de casa desacompanhadas”, denunciou a HRW.