Manifesto convoca buzinão para dia 09 contra “turismo descontrolado” em Lisboa
3 de out. de 2024, 15:14
— Lusa/AO Online
“Por
Lisboa, faz-te ouvir!” é o lema do manifesto, subscrito por 45 pessoas e
um movimento (Porta a Porta), que alerta para o impacto do “aumento
desregrado do turismo”, ao mesmo tempo que reclama “uma cidade aberta,
limpa, organizada, que receba e acolha”, no respeito por quem nela vive.“Qualquer
cidade deve ser um espaço para viver e visitar. Quando o primeiro dos
termos é esquecido em detrimento quase em exclusivo do segundo, os
desequilíbrios são muitos e insustentáveis”, apontam.Entre
os signatários do manifesto (que está aberto a novos subscritores)
estão personalidades como a ex-deputada Heloísa Apolónia, o sociólogo e
antigo líder da CGTP Manuel Carvalho da Silva, o economista Ricardo Paes
Mamede, a historiadora Raquel Varela, as cantoras Cristina Branco e
Mitó Mendes e as escritoras Luísa Costa Gomes e Tatiana Salem Levy.O
arquiteto Tiago Mota Saraiva, um dos subscritores, explica à Lusa que a
iniciativa resulta de “uma incomodidade relativamente à forma como o
turismo está a condicionar a vida na cidade”, mas “não é um manifesto
contra turistas”.O que é preciso é um “turismo sustentável”, contrapõe. “Todos gostamos de ser turistas, o turismo faz parte das cidades", salienta.O
que está a acontecer é que "a total desregulação" está a fazer do
turismo "uma entidade predadora da cidade, que a consome”, acrescenta.Nesse
contexto, os serviços – cafés, restaurantes, lojas – “transformam-se
única e exclusivamente para uma vertente turística” e a cidade fica
“totalmente condicionada” a esses movimentos, que alimentam “uma
economia extremamente precária” e a fazem “monotemática”.“Ou
nós assumimos que Lisboa vai ser uma Disneylândia ou uma Las Vegas, com
um objetivo específico, […] as pessoas vão lá e sabem que vão viver um
mundo específico e depois voltam, ou então as pessoas cá querem viver a
cidade”, reclama.Perante este cenário,
defendem os subscritores do manifesto que o Estado “deve condicionar,
deve regular esse tipo de atividades”. Ora,
a Câmara de Lisboa “não está a condicionar, aliás, Carlos Moedas, que,
eleito pelo PSD, lidera a autarquia, está continuamente a colocar-se do
lado de quem está nessa gula”, aponta o arquiteto e professor
universitário.No manifesto, os
subscritores consideram que o executivo de Carlos Moedas não reconhece a
“existência de um problema que urge resolver, através de medidas de
contenção da carga turística na cidade”. O
manifesto olha também para o "discurso que atribui à imigração, de
forma propositada, as causas de problemas”, notando que, por exemplo, a
crise na habitação decorre da “expansão desbragada e encorajada de um
turismo descontrolado e da especulação imobiliária que surge como uma
das suas primeiras consequências”.Tiago
Mota Saraiva assinala que “a imigração tem que ter uma resposta de
trabalho rápida e de emergência e é natural que vá para a economia que
está mais à mão, que está ali, que é a economia do turismo, as lojas, os
‘tuk-tuk’, os TVDE”.Numa economia
“profundamente desregulada”, a imigração “entra sem condições de
trabalho, com baixíssimas remunerações”, o que cria “uma precarização
total” não só das relações de trabalho, como das relações humanas.“Ao
ponto de, de um momento para o outro, a pessoa que […] tem contrato de
trabalho, que ganha pouco, mas que tem os seus direitos como trabalhador
assegurados, ver como seu principal inimigo o imigrante que não tem
papéis”, exemplifica.Numa altura em que
“Lisboa está a perder pessoas”, porque a densidade populacional visível
decorre da “carga turística brutal”, que é temporária, os subscritores
consideram que a cidade “está claramente a sentir o desconforto” e
querem aproveitar o momento.“A cidade e os
próprios turistas. Há inúmeros relatos de turistas a dizerem que vêm a
Lisboa há anos e que dizem que não voltam porque neste momento já não
veem a cidade a acontecer, veem uma turistificação desenfreada”,
assinala o arquiteto.O grupo convocou para
09 de outubro, entre as 09:00 e as 13:00, uma ação de protesto, “de
forma sonora”, em seis locais da cidade: Praça do Município, edifício da
Câmara de Lisboa no Campo Grande, Chiado, São Pedro de Alcântara,
Portas do Sol e Avenida da Liberdade.