Manifestação à porta de conserveira junta cerca de 60 trabalhadoras em Rabo de Peixe
19 de out. de 2022, 15:05
— Lusa/AO Online
As
trabalhadoras exibiam cartazes com as inscrições “Temos família e
compromissos para cumprir, não brinquem mais connosco” e “Cofaco escuta,
não nos vamos calar”, que replicavam com frases de ordem como
“sentimo-nos traídas e abandonadas” e “queremos um Acordo de Empresa".“Não
acho justo estar há 20 anos sem categoria. Temos de lutar pelos nossos
direitos. Não somos valorizadas”, afirmou aos jornalistas Tânia Cabral,
há duas décadas funcionária da Cofaco da vila de Rabo de Peixe.Há
28 anos na Cofaco, Engrácia Moniz, desabafou: “Não aguento viver com o
salário mínimo estes anos todos”, explicando que está inserida numa
"categoria profissional única", correspondente ao salário mínimo.Também a colega Lucília Aguiar apontou ser “frustrante” trabalhar "tantos anos e sempre a receber o mesmo".“Queremos
um Acordo de Empresa. Temos colegas que foram para a reforma com uma
miséria e queremos dar um futuro para os nossos filhos”, assinalou, aos
jornalistas, exibindo um cartaz a reivindicar “Mais salário e melhores
pensões”.O presidente do Sindicato dos
Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Alimentação, Bebidas e
Similares, Comércio, Escritórios e Serviços, Hotelaria e Turismo dos
Açores (SITACEHT), Vítor Silva, disse estar em causa “uma situação
extremamente injusta” relacionada “com a progressão na categoria
profissional”.“Aquilo que estão a fazer a
estas trabalhadoras não reconhecendo a sua categoria profissional é
inconstitucional”, vincou o dirigente sindical, aos jornalistas, em
frente às instalações da Cofaco de Rabo de Peixe.Segundo
o dirigente do sindicato que convocou a manifestação, "cerca de 85% dos
trabalhadores da Cofaco, e de toda a indústria conserveira, estão
impossibilitados de progredir na sua categoria profissional"."Uma
pessoa pode trabalhar, 10, 20, 30, 40 ou mais anos e durante este
período ganha sempre o salário mínimo praticado na região", denunciou
Vítor Silva.O dirigente sindical sustentou
que os trabalhadores da conserveira, na sua maioria mulheres, "não têm o
seu trabalho valorizado" pela Cofaco, que produz "marcas conceituadas
no mercado nacional e internacional”, como a Bom Petisco, a Tenório ou a
Pitéu."Estas senhoras são os 'Cristianos
Ronaldos' da indústria conserveira: São das melhores que existem no nosso
país", assinalou, recordando que, "mesmo durante o período da pandemia
de covid-19", o setor "não parou, trabalhou sempre, produziu sempre e
fez sempre lucro".Para Vítor Silva, a
empresa "tem todas as condições para poder aumentar estas
trabalhadoras", indicando que a situação "afeta cerca de 200
funcionárias"."A administração diz que vai
tentar ver, que é muito difícil, mas da última vez que começaram a
estudar já foi há sete anos", sustentou, justificando que a proposta
apresentada pelo sindicato era "muito fácil" de ser implementada. "São
três níveis de categoria de manipuladora. O nível terceiro para quem
tem mais de três anos de serviço e ganharia mais 15 euros do que o
salário mínimo. A manipuladora de segunda para quem tem mais de seis
anos de serviço e iria auferir mais 30 euros e a manipuladora de
primeira para quem tem mais de nove anos de serviço, que ganharia mais
45 euros do que o salário mínimo", acrescentou.Antes
da manifestação, o sindicato realizou um plenário, tendo Vítor Silva
admitido "outras formas de luta mais duras", caso a situação dos
trabalhadores não seja resolvida.Os
trabalhadores da Cofaco cumprem, desde setembro, uma greve às segundas e
sextas-feiras, no período normal trabalho, e outra paralisação às horas
extraordinárias.Essa paralisação, que decorre até dezembro, "está a ter uma adesão bastante significativa", segundo Vítor Silva.