Mandato de Metsola no PE entre nota positiva e incoerência para eurodeputados portugueses
18 de jan. de 2023, 13:03
— Lusa/AO Online
A sucessora de David
Sassoli cumpre o primeiro ano do mandato e a quase totalidade do
ano foi dominada pela guerra na Ucrânia, que começou 38 dias depois de
Metsola iniciar funções. Contudo, a
revelação de um escândalo de corrupção que envolve a antiga
vice-presidente do PE Eva Kaili e alguns eurodeputados revelou-se um
flagelo cuja resolução vai acompanhar a presidente ao longo do seu
mandato. “O primeiro ano de mandato de
Roberta Metsola como presidente do PE foi positivo e desenvolveu-se num
contexto bastante difícil para a afirmação do projeto europeu”,
considerou a eurodeputada socialista Maria Manuel Leitão Marques, numa
resposta enviada à Lusa.Metsola “esteve
bem ao expressar o apoio do Parlamento Europeu à Ucrânia”, disse a
Leitão Marques, recordando que a eurodeputada eleita por Malta chegou a
visitar o país no início de abril.Contudo,
frisa, o mandato não é imaculado: “Seria importante que a presidente
preste atenção a outros aspetos do funcionamento do PE que precisam de
reformas". "Por exemplo, os conflitos
entre comissões, sobre a distribuição de trabalho parlamentar, que
muitas vezes o atrasam vários meses. Será necessário encontrar uma
solução mais rápida para resolver estes conflitos ou repensar todo o
desenho das comissões e suas competências”, sublinhou a eurodeputada
socialista.O social-democrata Paulo Rangel
é da mesma opinião e, em declarações à Lusa, sustentou que Roberta
Metsola “desde muito cedo compreendeu a importância da agressão da
Rússia” e, por essa razão, o PE esteve “na dianteira face a outras
instituições europeias”. Rangel vai mais
longe nos elogios e classifica o primeiro ano de Metsola como
“absolutamente exemplar e excecional”, apenas comparável, ao nível da
visibilidade da instituição, com o mandato do alemão Martin Schulz –
presidente do Parlamento Europeu entre 2012 e 2017.Metsola
aumentou a presença da instituição “na vida política europeia e
quotidiana” e criou “uma ligação direta com os parlamentos e governos
nacionais”, completou.Em consonância com
Paulo Rangel, o eurodeputado centrista Nuno Melo apelidou o primeiro ano
do mandato como um “evidente sucesso”.“Foi
a primeira líder da União Europeia a deslocar-se à Ucrânia, liderando
pelo exemplo, tem mantido relações próximas com os principais
protagonistas políticos dos países do nosso espaço comum e internamente
tem exercido o mandato sem distinção por grupos políticos”, acrescentou o
também presidente do CDS-PP.Já o
bloquista José Gusmão realçou Metsola como o “rosto de uma posição muito
unida do Parlamento Europeu” no que diz respeito à guerra na Ucrânia,
mas apontou o dedo à presidente por “procedimentos que não estão à
altura do discurso de transparência” que é defendida pela eurodeputada
maltesa, nomeadamente a “nomeação de um familiar”.A
30 de dezembro, o diário italiano Il Foglio noticiou que Roberta
Metsola estava a ponderar a nomeação do cunhado, Matthew Tabone, para
chefe do seu gabinete, em substituição do italiano Alessandro
Chiocchetti, que em setembro de 2022 foi nomeado secretário-geral do PE –
uma nomeação que por si só esteve envolta em polémico. Contudo,
a nomeação do cunhado de Metsola não se concretizou. No mesmo dia, foi
anunciado que Leticia Zuleta de Realas Ansaldo iria desempenhar aquelas
funções.Já o PCP, através de João Pimenta
Lopes, não poupa nas críticas a Metsola, que “muito contribuiu” para o
“aprofundamento da confrontação, a escalada da guerra e o incremento da
militarização” da União Europeia.“Intervenção
[de Metsola], como de resto das instituições da União Europeia, marcada
pela ausência da indispensável afirmação da exigência do fim da guerra e
da defesa da paz, assim como da necessidade do aumento geral de
salários, o controlo de preços de bens essenciais e nos produtos
energéticos, entre outras imprescindíveis respostas para fazer face aos
problemas com que os povos e os trabalhadores se confrontam”, completou o
eurodeputado comunista e membro da direção do partido.O
independente Francisco Guerreiro, eleito pelo PAN, mas que em 2020
deixou o partido por “divergências políticas”, avaliou “positivamente” o
primeiro ano da presidente do PE, pela “proximidade com a sociedade
civil”, apontando por outro lado “falta de ação preventiva para evitar
casos de corrupção”.