Mamíferos percorrem distâncias mais curtas em paisagens modificadas
26 de jan. de 2018, 15:13
— Lusa/AO online
Os
resultados deste estudo, publicados esta sexta-feira na revista científica Science,
indicam que este comportamento pode ter "amplas consequências para os
ecossistemas", nos quais os animais desempenham "funções essenciais",
disse à Lusa o investigador João Paulo Silva, do Centro de Investigação
em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), envolvido no
projeto. De
acordo com o investigador, as áreas que condicionam os movimentos dos
mamíferos, seja por falta de alimento ou pela existência de
infraestruturas que geram um efeito de barreira e de fragmentação do
habitat, limitam a sua livre circulação, comprometendo a sobrevivência
dessas espécies e o próprio funcionamento dos ecossistemas.Nas
suas deslocações, que variam consoante o tamanho, o comportamento e os
hábitos das diferentes espécies, estas são intermediárias de processos
que envolvem, por exemplo, a dispersão de sementes e a reprodução de
plantas, explicou o investigador."Por
outro lado, os animais, ao estarem condicionados a áreas mais
confinadas, podem levar a um aumento da probabilidade de conflito com o
Homem em áreas rurais ou até à disseminação de doenças", referiu."Atualmente,
em pleno Antropoceno - nova era causada pelo impacto da actividade
humana -, entre 50 e 70% da superfície terrestre encontra-se alterada,
não existindo áreas que, de forma direta ou indireta, não estejam
alteradas pelo Homem", indicou João Paulo Silva.As
áreas terrestres menos humanizadas, contou, tendem a coincidir com as
mais agrestes e as as menos produtivas, de baixo valor económico.Para o investigador, essa é a principal causa da degradação e perda de habitat e biodiversidade. As
conclusões deste estudo demonstram igualmente que o impacto das
actividades humanas nos movimentos dos mamíferos é visível
principalmente em intervalos de tempo mais longos."Num
período de 10 dias, em áreas com um Índice de Pegada Humana
comparativamente elevado, os mamíferos percorreram entre metade e um
terço da distância percorrida em paisagens naturais. Já em escalas de
tempo mais curtas, como uma hora, não se percebem diferenças no padrão
de movimentação", esclareceu João Paulo Silva.Para
o obtenção dos resultados, a equipa de investigadores analisou os
movimentos de mais de 800 animais, representando 57 espécies, em várias
partes do planeta, recorrendo a informações recolhidas com dispositivos
GPS e ao Índice de Pegada Humana, que mede o nível de internação humana.O
estudo, designado "Moving in the Anthropocene: Global reductions in
terrestrial mammalian movements", põe em evidência "a necessidade de
manter a permeabilidade dos habitats ao movimento dos animais", frisou
João Paulo Silva.E
acrescentou: "para isso, é fundamental que futuros projetos assegurem a
permeabilidade do habitat aos movimentos e que, em particular, se
previnam impactos cumulativos causados por infraestruturas, que provocam
efeito barreira ou de fragmentação do habitat, como as estradas, as
ferrovias e as barragens".