Mali pede reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU por "atos de agressão" de Paris
17 de ago. de 2022, 14:26
— Lusa/AO Online
O ministério maliano
dos Negócios Estrangeiros divulgou hoje, junto dos jornalistas, uma
carta enviada pelo chefe da diplomacia, Abdoulaye Diop, à presidência em
exercício do Conselho de Segurança, atualmente assumida pela China. Na
carta, o ministro diz que o Mali "se reserva o direito de fazer uso da
legítima defesa" se as ações da França continuarem, de acordo com a
carta das Nações Unidas.A carta está
datada de 15 de agosto, data da saída dos últimos soldados franceses do
Mali ao fim de nove anos de uma operação de luta contra os extremistas
islâmicos.A junta no poder no Mali desde o
golpe de Estado de agosto de 2020 voltou costas à França e aos seus
aliados, para se virar para a Rússia.Na
carta divulgada, Diop denuncia "violações repetitivas e frequentes" do
espaço aéreo maliano pelas forças francesas e voos de aeronaves
francesas envolvidas em “atividades consideradas como de espionagem” e
tentativas de “intimidação”.As autoridades
malianas dizem dispor de “vários elementos de prova de que essas
violações flagrantes do espaço aéreo maliano serviram à França para
recolher informações em benefício de grupos terroristas que operam no
Sahel e para lhes lançar armas e munições”.O
Mali "convida" o Conselho de Segurança a trabalhar para que a França
“pare imediatamente os seus atos de agressão" e pede à presidência
chinesa que comunique estes elementos aos membros do Conselho, com vista
a uma reunião de emergência”, acrescentou Diop.Até agora, as autoridades francesas não reagiram às acusações.Os
últimos militares franceses da força especial Barkhane deixaram o Mali
na segunda-feira ao fim de nove anos a combater o fundamentalismo
islâmico no país, anunciou o Estado-Maior General das Forças Armadas
francesas.Após criar a operação Barkane em
2014 para ajudar a combater o fundamentalismo islâmico no Mali, a
França anunciou em 17 de fevereiro a decisão de reorganizar o
dispositivo “fora do território maliano” por concluir que as "condições
políticas e operacionais não estavam reunidas" para se manter no país,
recordou hoje o Estado-maior.A presença militar no Sahel ficará reduzida a metade até ao final do ano, com 2.500 militares.Paris
diz há meses que não está a abandonar o combate contra o extremismo
islâmico e que está a debater com os países do Sahel e do golfo da Guiné
a preparação de novas formas de intervenção.O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse no mês passado que “até ao outono vai repensar” a presença militar em África.A
operação Barkhane foi forçada a sair do Mali na sequência de
desentendimentos com a junta militar no poder em Bamako desde 2020. Mais
de 2.000 civis foram mortos no Mali, Níger e Burkina Faso desde o
início do ano, mais do que os 2.021 mortos registados em todo o ano de
2021, segundo cálculos da agência France-Presse com base em dados da
organização não-governamental Acled.Em nove anos de presença no Sahel, o exército francês perdeu 59 militares.A
junta militar no poder em Bamako desde 2020 pôs um fim à cooperação
militar com a França e optou por se virar para a Rússia, através da
empresa privada de mercenários Wagner.