Mais do que violência, escolas têm problema de indisciplina crescente
7 de nov. de 2019, 09:24
— Lusa/AO Online
“Do que vi não há um problema de violência
crescente, pode haver um problema de indisciplina crescente, mas de
violência, lá está, as estatísticas dizem que não. Dá jeito saber e
comparar números. Apesar de tudo são sintoma de um certo mal-estar. São
casos pontuais, mas são sintoma de um mal-estar, que obviamente tem que
se lhes dar atenção”, disse a presidente do Conselho Nacional de
Educação (CNE), Maria Emília Brederode Santos, em entrevista à Lusa.Nas
últimas semanas foram conhecidos vários casos de agressões, contra
professores e funcionários, que levaram representantes dos pais e
diretores escolares a reagir e a garantir que as escolas não estão
transformadas em “campos de batalha”, concordando com a posição
transmitida pelo Ministério da Educação de que se tratam de “casos
pontuais”.A indisciplina é maior, quanto
mais velhos são os professores, segundo um estudo divulgado em 2016 da
autoria do projeto aQeduto, uma parceria do CNE com a Fundação Francisco
Manuel dos Santos.O envelhecimento da
classe docente é precisamente um dos grandes problemas da Educação:
Apenas 1% dos professores tem menos de 30 anos e 41% tem pelo menos 50
anos, segundo o relatório anual sobre educação da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), Education at a Glance,
divulgado em setembro.Maria Emília
Brederode Santos não entende o envelhecimento como um problema em si
mesmo, lembrando que a idade é quase sempre sinónimo de experiência.
Para a presidente do CNE, mais preocupante pode ser o facto de esse
conhecimento acumulado não estar a ser transmitido aos mais novos.No
entanto, reconhece que é preciso acautelar a saída dos professores mais
velhos: “Daqui a pouco tempo vão sair muitos para a reforma e,
portanto, terá que haver uma alternativa para os substituir”.Neste
momento uma das preocupações do CNE é o racismo que ainda existe dentro
dos muros da escola. A esse propósito, o conselho tem em preparação uma
recomendação sobre educação para a cidadania e antirracismo, revelou a
presidente.“É bom que nos demos conta que
existe algum racismo, pode não ser tão grave como noutras situações, mas
existe e a escola, mais uma vez, é o meio para se conseguir superar
isso”, disse.Maria Emília Brederode Santos
lembrou que é preciso virar o foco para as crianças e jovens “mais
invisíveis” ou que possam estar sujeitas a discriminação. A estas, as
escolas devem dar mais atenção. No mesmo
sentido, continuou, deve-se olhar com mais atenção para as minorias
étnicas ou para as crianças com necessidades educativas especiais.Já
sobre o ensino superior, a pedagoga acredita que o modelo de acesso
“vai ter que ser repensado” e terá de “ser mais alargado” porque “em
toda a parte quase que o ensino superior está a tornar-se obrigatório”.No
anterior mandato, foi pedido ao CNE um parecer sobre a matéria e a
presidente espera que na legislatura que agora começou este seja “um
tema importante” a ser repensado.Evitando
alongar-se sobre o tema, uma vez que o CNE tem uma recomendação em
preparação, defendeu, no entanto, que para além de alargar o acesso, o
ensino superior “vai ter que rever um pouco a sua própria pedagogia”.“Se
nos primeiros anos, o aluno não tem determinadas competências que a
instituição de ensino superior entende que devia ter, terá que as
promover e não ficar à espera que só lhe cheguem alunos que já têm as
competências que querem”, disse, a propósito dos diferentes níveis de
preparação que os alunos podem ter à entrada consoante o regime em que
concluíram o ensino secundário.Uma das
ideias em cima da mesa era alterar as condições de acesso para os alunos
provenientes das vias profissionais, eliminando a obrigatoriedade de
prestarem provas em matérias que não faziam parte do seu currículo, mas
acabou por não avançar na anterior legislatura.