Mais de um terço das vagas de internato ficaram desertas
Hoje 10:52
— Nuno Martins Neves
Já foi tornado público a lista provisória de colocados na formação
médica especializada: das 50 vagas de internato disponibilizadas para a
Região Autónoma dos Açores, 31 foram preenchidas, deixando mais de um
terço (38%) sem candidatos.De acordo com as informações
disponibilizadas pela ACSS - Administração Central do Sistema de Saúde,
IP, entidade responsável pelo acesso à área de especialidade, e pela
Ordem dos Médicos, a Região apresentou 68% de vagas ocupadas, um número
abaixo à média nacional, em que a ocupação foi de 79%, tendo ficado
desertas perto de 500 das 2317 vagas disponíveis.Lá, como cá, duas
especialidades tiveram um grande peso: Medicina Geral e Familiar (MGF) e
Medicina Interna. Se esta última só atraiu um candidato para as cinco
vagas (três no Hospital do Divino Espírito Santo, uma no Hospital de Santo Espírito e outra no Centro de Saúde de Angra do Heroísmo,
sendo que as duas últimas ficaram desertas), já na MGF, das 22 vagas, 10
ficaram por preencher (45,5%).Os centros de saúde de Ponta Delgada
(5), Lagoa (2), Ribeira Grande (2), Praia da Vitória (2) e Vila Franca
do Campo (1) conseguiram os internos de MGF que precisavam, o mesmo não
aconteceu em Angra (2), Horta, Lajes do Pico, Madalena, São Roque,
Calheta, Velas, Nordeste e Povoação, todas com uma vaga cada.Para
Anabela Lopes, representante nos Açores do Sindicato dos Médicos da Zona
Sul (SZMS) e também assistente de Medicina Geral e Familiar, os números
apresentados pela MGF espelham a falta de atratividade da
especialidade, muito pelo carga de trabalho que acarreta.Mas como se
pode dar a volta a isto? “Ou diminuindo a lista de utentes ou aplicando
uma contabilização dos utentes por unidades ponderadas, isso é pela
real carga de trabalho que cada utente representa”, aponta a
sindicalista. Na região, neste momento, a média de utentes por
médico de família ronda os 1750, um valor que está ainda abaixo do
máximo contratualizado (1900). Mas Anabela Lopes alerta que nem todos os
utentes são iguais. “Não é a mesma coisa ter uma lista de pessoas
de meia idade e sem problemas de saúde ou uma lista com muitas crianças
(por exemplo, até aos 11 meses uma criança tem seis consultas se correr
tudo bem, mais se tiver algum problema de saúde) ou com diabéticos
(pelo menos duas consultas por ano, se correr tudo bem)”, diz Anabela
Lopes.Além disso, a representante do SMZS apela a um trabalho mais
em equipa: “A lista de utentes não ser do médico, mas sim do médico, do
enfermeiro e do administrativo, trabalhando em prol do utente e
dividindo responsabilidades e tarefas que podem ser divididas”.Anabela
Lopes assinala a abertura a negociação que a tutela tem demonstrado,
sublinhando que é importante haver médicos de família “que tenham
acessibilidade”.Mais quatro especialidades com vagas por ocuparQuanto
a outras especialidades que ficaram sem candidatos, registam-se
Medicina Intensiva (2), Hematologia Clínica (1) e Oncologia Médica (1),
todas no HDES; e Saúde Pública (1), na Unidade de Saúde de Ilha de São
Miguel.Por unidade de saúde, o hospital de Ponta Delgada representou
quase metade das vagas totais (23 das 50), tendo preenchido 17, nas
especialidades de Anestesiologia (2), Angiologia/Cirurgia Vascular
(1), Cardiologia (1), Ginecologia/Obstétricia (1), Medicina de
Urgência e Emergência (1), Medicina Física e de Reabilitação (1),
Neurologia (1), Ortopedia (1), Pediatria (2), Psiquiatria (2),
Radiologia (1) e Reumatologia (1).