Mais de um terço das famílias ganha 833 euros/mês e não tem como pagar despesas inesperadas
Pobreza
17 de out. de 2023, 09:33
— Lusa/AO Online
No
dia em que se assinala o Dia Internacional para a Erradicação da
Pobreza, a Pordata, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco
Manuel dos Santos, compila alguns dados do Instituto Nacional de
Estatística (INE) para fazer um retrato do nível de pobreza da população
portuguesa.Através deste retrato é
possível ficar a saber, por exemplo, que em 2021, e tendo por base as
declarações de IRS entregues todos os anos pelos agregados fiscais,
“mais de um terço dos agregados (36%) viviam, no máximo, com 833 euros
mensais”.“Se acrescentarmos o escalão de
rendimento imediatamente a seguir, conclui-se que mais de metade das
declarações (53%) correspondiam a rendimentos até aos 1.125€ brutos
mensais”, refere a Pordata, sublinhando que 688 mil agregados fiscais
estavam no escalão mínimo de IRS (equivalente a 417 euros mensais).No
entanto, e tendo em conta os rendimentos declarados, “20% dos agregados
fiscais mais ricos ganharam 3,5 vezes mais que os 20% dos agregados
mais pobres” e “em concelhos como Lisboa, Porto, Oeiras e Cascais, a
diferença é de cinco vezes mais”.Com base
em alguns resultados dos indicadores sobre privação material e social do
Inquérito às Condições de Vida e Rendimentos (ICOR), referentes ao
primeiro semestre de 2022, a Pordata aponta que nessa altura 30% das
famílias não conseguiam fazer face a despesas inesperadas e 6,1% referiu
ter atrasos em alguns dos pagamentos relativos a rendas, prestações ou
créditos.Foi possível constatar que
aumentou a percentagem da população que diz ser incapaz de aquecer
convenientemente a casa, sendo que Portugal foi o 4.º país da União
Europeia com maior proporção de pessoas a dar conta dessa incapacidade.Por
outro lado, “também subiu ligeiramente a proporção da população sem
capacidade financeira para assegurar uma refeição de carne, peixe ou
equivalente vegetariano de 2 em 2 dias (de 2,4% para 3%) e de pessoas
sem capacidade para pagar uma semana de férias por ano, fora de casa (de
36,7% para 37,2%)”.Os indicadores mais
recentes do INE sobre pobreza são relativos aos rendimentos de 2021 e
mostram que nessa altura 1,7 milhões de portugueses estavam em risco de
pobreza, ou seja, viviam com menos de 551 euros por mês, e que 18,5% das
crianças e jovens eram pobres, além de demonstrarem que aumentou o
risco de pobreza nas famílias com dois adultos e duas crianças.Relativamente
à evolução da inflação e ao poder de compra dos portugueses, a Pordata
refere que em 2022 se registou a taxa de inflação mais elevada dos
últimos 30 anos e que a partir de fevereiro se assistiu ao aumento
generalizado do preço dos bens e serviços, muito por culpa da guerra na
Ucrânia.“É preciso recuar 30 anos para
encontrar uma taxa de inflação superior à de 2022 (7,8% vs. 9,6% em
1992). Desde que há registo, o pico da inflação ocorreu em 1984 (28,5%)
e, desde meados de 1995, a inflação foi sempre inferior a 4,5%. Nos anos
mais recentes, temos de recuar a 2017 para encontrarmos uma subida nos
preços superior a 1,3%”, refere.Como
consequência, diminuiu o poder de compra dos portugueses e os 760 euros
do salário mínimo nacional equivalem a 678 euros, já que os produtos do
cabaz de compra representativos das despesas das famílias encareceram,
em média, 12,2%.A Pordata refere também
que em matéria de habitação, em 2022, o preço das casas aumentou 90%
face a 2015 – contra 48% da média da União Europeia, enquanto os
salários subiram apenas 20%.