Mais de 60 vítimas de abuso já pediram reparação financeira à Igreja Católica em Portugal
20 de jan. de 2025, 10:22
— Lusa/AO Online
Estes
dados foram revelados pela coordenadora do Grupo VITA, a psicóloga
Rute Agulhas, em entrevista conjunta à agência Ecclesia e à Rádio
Renascença, na qual apontou que a média etária das vítimas que
contactaram aquele organismo se situa nos 54 anos.Segundo
Rute Agulhas, “algumas delas [das vítimas] querem só desabafar,
partilhar, quebrar o segredo que em média dura 40 anos”, sublinhando que
a maior parte dos casos estão prescritos, porque “já aconteceram há
muito tempo”.“Situações que ainda não
teriam prescrito mais recentes, tivemos cerca de duas ou três, que foram
naturalmente de imediato sinalizadas às entidades competentes”, disse
Rute Agulhas, citada pela agência Ecclesia.A
psicóloga, nesta entrevista, adiantou que em dois casos já prescritos
do ponto de vista civil, a Santa Sé decidiu derrogar a prescrição,
possibilidade prevista no Direito Canónico.Na
próxima terça-feira, num hotel de Lisboa, o Grupo VITA vai apresentar
publicamente o seu terceiro relatório de atividades, o qual, segundo
revelou à Ecclesia e à Renascença, vai destacar o universo de 62 pessoas
que pediram atendimento, presencialmente ou online, numa
“caracterização sociodemográfica, do tipo de situações que reportam,
onde é que aconteciam, como é que se sentiam, que impacto é que estas
situações tiveram”.Sobre os pedidos de
reparação financeira, Rute Agulhas referiu que “na maior parte”, são
pessoas que o Grupo já conhecia. “Temos 15 situações novas”, adiantou.Dos 61 pedidos, 40 foram feitos por homens, tendo os casos de abuso maior prevalência nas décadas de 60 e 80 do século XX.O
Grupo VITA foi criado pela CEP na sequência do trabalho da Comissão
Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja
Católica que validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e
2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815
vítimas.Em abril de 2024, a CEP aprovou a
criação de um fundo, “com contributo solidário de todas as dioceses”,
para compensar financeiramente as vítimas de abusos sexual no seio da
Igreja Católica em Portugal.A decisão foi
comunicada em Fátima, no final da Assembleia Plenária da CEP, a qual
determinou que estas compensações financeiras serão atribuídas com
“caráter supletivo”.O fundo, que “pode ser
aberto a outras entidades que queiram colaborar”, segundo José Ornelas,
presidente da CEP, “não tem montante definido”, nem as reparações têm
“teto” estabelecido, o mesmo acontecendo com o que cada diocese
contribuirá para o montante global, tendo em conta que as realidades das
dioceses são diferentes.A 01 de junho, a
CEP abriu o período de “apresentação formal” dos pedidos de compensação
financeira às crianças e adultos vulneráveis vítimas de abusos sexuais
no contexto da Igreja Católica.Estes
pedidos devem ser apresentados, até 31 de março deste ano, ao Grupo VITA
ou às comissões diocesanas de Proteção de Menores e Adultos
Vulneráveis, após o que, “uma comissão de avaliação determinará os
montantes das compensações a atribuir”.Os bispos preveem que os processos de atribuição de indemnizações estejam concluídos até ao final de 2025.