Mais de 29 mil pessoas morreram a tentar chegar à Europa desde 2014
Migrações
26 de out. de 2022, 12:20
— Lusa/AO Online
O
relatório, publicado na terça-feira, refere que a rota migratório do
Mediterrâneo regista “um número crescente de mortes” quer “nas
fronteiras terrestres da Europa, [quer] dentro do continente”.O
Mediterrâneo Central continua, aliás, segundo a OIM, a ser a rota de
migração mais mortal, tendo aí morrido 2.836 pessoas desde janeiro de
2021, quando tentavam chegar à Itália ou a Malta em barcos com origem
sobretudo na Líbia e na Tunísia.As últimas
vítimas conhecidas foram dois bebés gémeos recém-nascidos que morreram
num barco onde estavam 60 pessoas vindas da Tunísia. A guarda costeira
italiana resgatou os sobreviventes na terça-feira, tendo-os desembarcado
na ilha italiana de Lampedusa. As
operações de resgate nessa rota por navios militares italianos e barcos
operados por organizações humanitárias nas costas do sul da Itália
intensificaram-se nas últimas semanas, mas os navios humanitários
continuam frequentemente a ter de esperar dias até obterem permissão
para atracar em portos italianos, refere o relatório da OIM.
Centenas de pessoas resgatadas estão abrigadas temporariamente em
centros de acolhimento superlotado em Lampedusa, onde todos os dias
continuam a registar-se novas chegadas de migrantes.De
acordo com o relatório da OIM, a segunda rota migratória mais mortal
foi a que liga a África Ocidental às Ilhas Canárias espanholas, onde
mais de 1.500 mortes foram registadas desde 2021. No entanto, os
investigadores da organização admitem que a contabilização esteja
subestimada, já que não incluiu os barcos que desaparecem no mar sem
testemunhas.Os números de mortes de
migrantes também aumentaram noutras áreas de fronteira com a Europa,
como na Grécia, os Balcãs Ocidentais e o Canal da Mancha, sublinha o
relatório.Os mortos cujas nacionalidades
são conhecidas eram provenientes sobretudo de África e do Médio Oriente,
mas mais de 17.000 tinha nacionalidade desconhecida.
Muitas das mortes “podiam ter sido evitadas se tivesse sido dada ajuda
imediata e eficaz aos migrantes em perigo”, defendeu o documento do
Projeto Migrantes Desaparecidos. Na
terça-feira, a linha telefónica direta de voluntários para ajuda a
migrantes e refugiados com problemas no mar, a Alarm Phone, anunciou que
estavam cerca de 400 pessoas num barco que tinha saído da Líbia e que
se dirigia a Itália.A guarda costeira
italiana não respondeu logo à mensagem, só reagindo quando a Alarm Phone
avisou que dois grandes barcos de madeira com quase 1.400 pessoas
tinham saído juntos do leste da Líbia e estavam a chegar, em condições
muito precárias, a zonas de resgate de Itália e Malta.“Fomos
informados que um [navio] transporta cerca de 700 pessoas e o outro
cerca de 650. Alegadamente, uma pessoa já morreu e os motores já não
estão a funcionar. É urgente uma enorme operação de resgate”, alertou o
grupo, numa mensagem divulgada através da rede social Twiteer.Dez
horas depois, sem que as autoridades tivessem respondido ao pedido de
resgate, o grupo avisou de novo na rede social que já estavam “pessoas
em perigo” e tinham sido relatadas “12 mortes e a existência de pessoas
inconscientes e a sofrer de desidratação”.A
Itália luta, há mais de uma década, com a chegada contínua de migrantes
às suas costas, tendo a nova primeira-ministra italiana defendido, na
terça-feira, no seu primeiro discurso perante o parlamento, que o
Governo pretende “travar as saídas ilegais” de migrantes de África com
destino à Itália, adiantando que vai pedir ajuda à União Europeia.Este
Governo “quer acabar com as saídas ilegais [de África] e acabar com o
tráfico de pessoas” no Mediterrâneo, defendeu Giorgia Meloni, explicando
que vai pedir à União Europeia que recupere a operação naval Sophia,
através da qual foi feito, entre 2015 e 2020, um patrulhamento regular
do Mediterrâneo por aviões europeus com vista a desmantelar redes de
traficantes de seres humanos.O relatório
da OIM adianta ainda que existe “uma falha estrutural em fornecer
caminhos seguros adequados” aos migrantes e refere que, segundo relatos
de sobreviventes retransmitidos à OIM, pelo menos 252 pessoas morreram
durante expulsões forçadas por autoridades europeias desde 2021.