Mais de 200 pessoas assinam manifesto contra legalização de sorte de varas nos Açores
6 de fev. de 2025, 17:54
— Lusa/AO Online
“Muitas
são as vozes, de todos os quadrantes da sociedade, mesmo entre os
aficionados, que se têm posicionado contra esta prática de crueldade
extrema para com o touro, proibida em todo o país e que não se reveste,
nas nossas ilhas, de qualquer caráter cultural, tradicional ou
identitário”, lê-se no manifesto.O antigo
deputado regional do PCP Aníbal Pires é o porta-voz do movimento, que
apresentou o manifesto na livraria Lar Doce Livro, em Angra do
Heroísmo, na ilha Terceira.No final de
janeiro, no IV Fórum Mundial da Cultura Taurina, o antigo presidente da
Tertúlia Tauromáquica José Parreira defendeu a legalização na região da
sorte de varas, em que os touros são picados, e o secretário regional da
Agricultura e Alimentação, António Ventura, desafiou a
Tertúlia a tentar que a sorte de varas seja discutida no parlamento,
alegando que a sua composição atual, com oito partidos e sem uma maioria
absoluta, “pode ser uma vantagem”.“Não
vai ser uma tarefa fácil, teremos de fechar os ouvidos e os olhos a
muitos ataques, mas nos Açores mandam os açorianos e mandam através do
seu parlamento regional”, afirmou.As
declarações geraram a contestação de várias associações e movimentos e
deram origem a uma petição, que conta com mais de 2000 assinaturas.Segundo
Aníbal Pires, o manifesto “surgiu de forma espontânea e não tem ligação
com nenhuma organização”, sendo assinado por pessoas de vários
quadrantes da sociedade, incluindo por aficionados.“Este
manifesto não é contra as touradas de praça, nem contra as touradas à
corda. O manifesto é tão somente contra qualquer tentativa, venha ela de
onde vier, de legalização da sorte de varas nos Açores”, adiantou.O
documento, disponível na internet, já foi assinado por “mais de 200
pessoas”. O objetivo não será enviá-lo ao parlamento açoriano, mas
“manter a opinião pública alerta”.O
porta-voz do movimento disse estar convencido de que a maioria dos
açorianos não concorda com a legalização da sorte de varas, por isso
desafiou o secretário da Agricultura “a propor um referendo regional”.Defendeu,
por outro lado, que o presidente do executivo açoriano deveria “fazer
um reparo pela forma leviana como o secretário regional fez as
declarações que são do domínio público”.“Eu
julgo que o secretário regional da Agricultura, no calor do contexto em
que proferiu as declarações que são conhecidas, não teve tempo para
refletir, porque o Governo Regional do qual ele faz parte não tem uma
posição sobre o assunto. Não é conhecida nos programas dos partidos
qualquer intenção da legalização da sorte de varas”, salientou.Aníbal
Pires era deputado à Assembleia Legislativa dos Açores, em 2009, quando
foi votada a mais recente proposta sobre a legalização da sorte de
varas nos Açores, que acabou por ser rejeitada com 28 votos contra, 26 a
favor e duas abstenções.O antigo deputado
do PCP lembrou, no entanto, que já em 2002 tinha sido aprovada uma
proposta, que foi travada pelo Tribunal Constitucional.Segundo
Aníbal Pires, em 2015, “correram rumores nos corredores da Assembleia
Legislativa de que alguns deputados estavam a preparar uma iniciativa
parlamentar” para legalizar a sorte de varas, mas a intenção
“esfumou-se”, depois de ter surgido um manifesto semelhante ao que foi
agora apresentado.“Não terminaremos por aqui, vamos continuar a aceitar subscritores e, sobretudo, vamos manter-nos alerta”, vincou.O
subscritor alertou para o impacto que a legalização da sorte de varas
poderia ter na imagem do arquipélago, como destino de turismo
sustentável e de natureza.“Uma situação
destas mancharia claramente a imagem dos Açores e, se é verdade que
poderia atrair um pequeno segmento de turistas, certamente que afastaria
um setor muito mais alargado a procurar este destino”, apontou.