Mais de 2.500 vítimas de violência doméstica recorreram ao Espaço Júlia em quatro anos
24 de jul. de 2019, 08:48
— Lusa/AO Online
Inaugurado no dia 24 de julho de 2015, o
Espaço Júlia - RIAV (Resposta Integrada de Apoio à Vítima), funciona na
Alameda de Santo António dos Capuchos, oferecendo um atendimento
permanente especializado feito por técnicos de apoio à vítima da
Freguesia de Santo António e agentes da PSP, em parceria com o Centro
Hospitalar de Lisboa Central. Só nos
primeiros meses de funcionamento, o espaço atendeu mais de 200 pessoas, e
agora, passados quatro anos, esse número ascende a mais de 2.500
vítimas.Fazendo um balanço à agência Lusa
destes quatro anos, o presidente da Junta de Freguesia de Santo António,
Vasco Morgado, afirmou que, “infelizmente, é positivo”. “É
um espaço que continua com muito serviço, com muito trabalho, cada vez
mais”, disse o autarca, contando que quando o espaço abriu o seu
discurso era que estaria “contente quando ele deixasse de ser necessário
e tivesse de o fechar”.Mas “infelizmente não se vislumbra essa situação”, disse.Situado
junto à entrada do Hospital Santo António dos Capuchos, o equipamento
social abrange as quatro freguesias envolventes: Arroios, Santo António,
Santa Maria Maior e Misericórdia. Mas o
que se está a verificar é um aumento do número de pessoas oriundas de
outras freguesias de Lisboa e até de outras regiões do país. “Já tivemos
gente de Braga e dos Açores a vir apresentar queixa ao Espaço Júlia
porque viram na televisão”, contou. Ao
Espaço Júlia, batizado com o nome de uma mulher de 77 anos que morreu na
freguesia de Santo António às mãos do marido, recorrem mais mulheres,
mas também homens (75 no ano passado), pessoas da comunidade LGBTI,
idosos e crianças.Para Vasco Morgado, seriam necessários mais espaço idênticos para ajudar as vítimas deste flagelo.O
centro alertou para a “necessidade real” de abrir na cidade mais quatro
espaços para que toda a cidade ficasse abrangida por este tipo de
projeto, que “infelizmente é tão necessário nos dias de hoje, porque a
violência doméstica é transversal a toda a sociedade”.“Não é por ter poucos estudos, ter muitos estudos, não é nada disso. Isto é transversal a toda a sociedade”, lamentou. A
freguesia de Santo António, a mentora desta iniciativa, dispõe de três
técnicos para este projeto e a PSP dez agentes para um espaço que
funciona “24 horas por e 365 dias por ano”.Sobre
se estava à espera do espaço ter uma afluência tão grande, Vasco
Morgado disse que não: “Isto era uma caixa que ia ser aberta pela
primeira vez. Portanto, não havia grande estatística que nos pudesse
ajudar”.“Mas abrimos uma caixa de pandora
porque as pessoas passaram a ter um espaço específico, que não tem o
estigma pesado de uma prisão”, e começaram a recorrer a ele, afirmou o
autarcaA partir daqui quem abrir outros
equipamentos já “pode ter uma noção” do que vai acontecer,
acrescentando: “Ao contrário de nós, que não tínhamos” nenhuma
referência. “Portanto, isto foi abrir uma caixa de pandora que, infelizmente, se revelou necessário”, sublinhou.Vasco
Morgado disse ter um “orgulho imenso” de ter uma equipa a trabalhar
consigo que se “presta a estas aventuras, porque foi um pontapé no
escuro”.Segundo o Relatório Anual de
Monitorização da Secretaria Geral do Ministério da Administração
Interna, em 2018, a PSP e a GNR receberam uma média de 2.203
participações por mês, 72 por dia e três por hora.No
total foram registadas, no ano passado, pelas forças de segurança
26.432 participações de violência doméstica, 11.913 das quais pela GNR e
14.519 pela PSP, correspondendo a uma diminuição de 1,2% face a 2017.