Mais de 109 mil vítimas de tráfico humano identificadas em 2020 em todo o mundo
1 de jul. de 2021, 17:24
— Lusa/AO online
O
relatório sobre Tráfico Humano de 2021, apresentado pelos Estados
Unidos da América sobre 188 países, consultado pela agência Lusa,
conclui que a pandemia de covid-19 criou condições para o aumento do
tráfico humano e exploração sexual dos mais vulneráveis em todo o mundo.Apesar
de os números não corresponderem ao número verdadeiro de vítimas de
tráfico humano, mas sim a registos estatais, notaram-se diferentes
tendências em diferentes zonas geográficas.Em
2020 foram identificadas 109.216 vítimas de tráfico humano em todo o
mundo, das quais cerca de 14.500 dizem respeito a trabalho escravo,
segundo se pode ver num gráfico.O
número, porém, é menor do que as vítimas identificadas em 2019, cerca
de 119.000, que se pode explicar pela redução de recursos na
identificação de vítimas e no combate ao tráfico humano devido à
pandemia de covid-19.Com
os governos a “desviarem recursos” para a recuperação da pandemia,
segundo se lê no documento, as operações de combate ao tráfico foram
interrompidas, o que possibilitou também aos traficantes a “adaptarem-se
rapidamente para capitalizar vulnerabilidades expostas e exacerbadas
pela pandemia”.As
conclusões alertam também que sobreviventes de tráfico enfrentaram um
risco ainda maior de voltarem a ser vítimas, “devido a dificuldades
financeiras e emocionais durante a crise”.Antony
Blinken, secretário de Estado norte-americano, sublinhou a mensagem de
que “crises globais, como a pandemia de covid-19, mudanças climáticas e a
discriminação têm um efeito desproporcional sobre os indivíduos já
oprimidos por outras injustiças”.Segundo Blinken, o relatório pretende “melhorar esforços coletivos” para combater o tráfico humano em todo o mundo.A
diretora do escritório responsável pela autoria do relatório, Kari
Johnstone, sublinhou que a pandemia de covid-19 resultou num “ambiente
ideal para o tráfico humano florescer e evoluir”.São
realçados exemplos dos Estados Unidos, Reino Unido ou Uruguai, em que
os proprietários de casas forçavam os inquilinos, geralmente mulheres, a
relações sexuais quando o aluguel não podia ser pago.Os
autores descobriram também que “durante o confinamento, os traficantes
na Amazónia do Brasil mudaram padrões” e, em vez de levar as crianças
para os locais habituais onde eram vendidas, passaram a enviar as
vítimas diretamente para “aposentos privados dos perpetradores ou locais
específicos”.Na
Índia e no Nepal, segundo o relatório norte-americano, meninas de áreas
pobres ou rurais foram postas em casamentos forçados em troca de
dinheiro. No Haiti, Níger e Mali, campos para pessoas deslocadas foram
palco de “atos sexuais comerciais” forçados.As
famílias também se tornaram vulneráveis ao tráfico, por exemplo na
Birmânia, onde se registaram reduções drásticas dos rendimentos
familiares.Na
região de Ásia Central e do Sul, que inclui países do Cazaquistão para o
sul, até Índia e países insulares de Sri Lanka e Maldivas, foi
identificado o maior número de vítimas de tráfico dos últimos sete anos:
45.060 vítimas de tráfico humano identificadas em 2020.Na
região de Ásia oriental e Pacífico, o número de vítimas identificadas
em 2020 diminui consideravelmente, para 2.884 pessoas, uma diferença de
12 mil pessoas desde 2019.África registou a identificação de 28.538 vítimas, apesar de o número representar uma redução de 14 mil pessoas desde 2019.Já o Médio Oriente e países do norte da África registaram 3.461 vítimas identificadas em 2020.O
número de vítimas identificadas aumentou de forma pronunciada na
Europa, onde, no último ano, foram registadas 18.173 vítimas, o maior
número desde 2014.O hemisfério ocidental, que inclui a América do Norte e do Sul, teve 11.100 vítimas identificadas em 2020.“Procuraremos
usar nosso envolvimento durante todo o ano com governos, defensores e o
setor privado para construir uma estratégia de combate ao tráfico mais
eficaz, baseada na equidade”, declarou o secretário de Estado, citado no
relatório.“Isso
deve incluir o reconhecimento do nosso papel como perpetradores de
violência e desumanização de pessoas, e devemos trabalhar para corrigir
esses erros do passado”, acrescentou Antony Blinken.