Mais de 100 pessoas mostram 'cartão vermelho' à eutanásia no Porto

16 de fev. de 2020, 12:19 — AO Online/ Lusa

Com o mote “cuidar sim, matar não”, e defendendo que “a vida está em primeiro lugar”, os manifestantes foram usando da palavra e dando o seu testemunho e opinião num palco improvisado, sempre na “defesa da vida”.Uma dessas vozes foi Jorge Pires, da organização do protesto, que assumiu estar descontente pela forma como alguns querem aprovar a lei da despenalização da eutanásia.Dizendo que um assunto desta natureza não pode ser tratado de forma “leve e leviana”, o também porta-voz da Associação Pediátrica Oncológica considerou ainda não ter havido um debate sério.“Temos a obrigação de dar cumprimento aos cuidados paliativos porque não estão a ser cumpridos”, declarou.Para Jorge Pires, a vida não é referendável, mas sim inviolável: “Ninguém quer morrer”, opinou, acrescentando que quem diz o contrário está em “desespero emocional” e debilitado.“Não te deixes enganar. Não há morte com mais dignidade do que aquela que não escolhe dia, nem hora”, lia-se num cartaz empunhado por uma criança, enquanto o médico António Sarmento assumia não poder estar de acordo com a legalização da eutanásia, porque em 42 anos de atividade nunca ninguém lhe pediu para morrer.Comentando que ninguém tem o direito de tirar a vida ao outro, o clínico do Centro Hospitalar Universitário de São João disse temer que se possa abrir um precedente com a despenalização, levando as pessoas a pedir para pôr fim à vida apenas porque se “sentem um fardo”.Também absolutamente contra a medida esteve António Vasconcelos, de cartão vermelho em punho, frisando que a vida foi dada por Deus e, por isso, ninguém tem o direito de nela interferir.“Não há direito. Isto não pode ser, por isso, ainda acredito no bom senso dos deputados na hora da votação”, comentou.Na sua opinião, as pessoas não têm a ideia real do que é a eutanásia, ainda há desconhecimento e confusão sobre o assunto.“A medicina não é suicidária”, declarou, por seu turno, o médico Mário Gonçalves, considerando que a eutanásia vai prejudicar a prática médica: “Matar não é normal, normal é cuidar”.A também médica Maria Gonçalves pediu mais cuidados paliativos, maior sensibilidade e que Portugal não implemente uma “cultura de morte”.A Assembleia da República agendou para 20 de fevereiro o debate dos projetos do BE, PS, PAN e PEV sobre a despenalização da morte medicamente assistida.Em 2018, a Assembleia da República debateu projetos de despenalização da morte medicamente assistida do PS, BE, PAN e PEV, mas foram todos chumbados, numa votação nominal dos deputados, um a um, e em que os dois maiores partidos deram liberdade de voto.Há dois anos, o CDS-PP votou contra, assim como o PCP. O PSD dividiu-se, uma maioria no PS votou a favor, e o PAN e o BE votaram a favor.Face ao resultado, os partidos defensores da despenalização remeteram para a legislatura seguinte, que saiu das legislativas de outubro, a reapresentação de propostas, o que veio a acontecer.Na atual legislatura, há, de novo, projetos de lei sobre a morte medicamente assistida apresentados pelo BE, PS, PAN e PEV, que determinam as condições em que é despenalizada a eutanásia.