Mais de 100 lesados já morreram à espera de ver feita justiça
BES/GES
15 de out. de 2024, 15:06
— Lusa/AO Online
“Os bens arrestados,
ainda que à ordem do processo, só existem porque milhares de pessoas
sofreram as consequências atrozes de vários crimes. Mais de 100 dos meus
clientes já faleceram ao longo deste processo. São vítimas que partiram
sem ver justiça feita, sem que os seus direitos fossem devidamente
reconhecidos”, afirmou o mandatário nas exposições introdutórias
realizadas na primeira sessão do julgamento no Juízo Central Criminal de
Lisboa.Nuno Silva Vieira salientou que “o
foco principal deve ser a reparação das vítimas”, assinalando que o
problema da recuperação do dinheiro perdido pelas vítimas no colapso do
GES já passou para as gerações seguintes.“Estamos
já a falar de casos em que a terceira geração das famílias está agora
envolvida no processo, tendo herdado, não apenas o fardo da perda
financeira, mas também o peso emocional e jurídico de um processo que
parece interminável. (…) Já passaram 10 anos desde a queda do Banco
Espírito Santo. Até hoje, as vítimas não receberam qualquer forma de
compensação ou de justiça através do sistema judicial”, referiu.“O
que mais nos preocupa é que, a este ritmo, não sabemos quantos mais 10
anos poderão passar até que este processo tenha um desfecho. E, como bem
sabemos, uma justiça que se arrasta por décadas, que não responde às
necessidades imediatas das vítimas, deixa de ser justiça”, acrescentou
ainda o mandatário.Entre os assistentes
que falaram na sessão da manhã estiveram também o advogado Ricardo Sá
Fernandes, em representação de um cliente que perdeu 20 milhões de euros
e que assumiu ter “as maiores reservas” de que Ricardo Salgado possa
ser julgado criminalmente devido ao estado de saúde. Por
sua vez, o advogado Miguel Matias, que representa a Petróleos da
Venezuela (PDVSA), vincou que o humanismo devia ser voltado para as
vítimas e não tanto para o ex-banqueiro, enfatizando igualmente que
“alguém do Banco de Portugal devia estar sentado” no julgamento.“Não
é admissível. Fechou os olhos a uma regulação que devia ter feito.
Estamos a falar de roubo, simples e sem complexidade financeira”,
declarou.O antigo presidente do BES,
Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em
tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.Entre
os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de
corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de
infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de
capitais e sete de falsificação de documentos.Além
de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos,
nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel
Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida
Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne
Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as
sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.