Mais casos de hepatite A e C devem-se a surto e consciencialização para o rastreio
25 de jul. de 2024, 11:01
— Lusa/AO Online
De
acordo com o relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais
(PNHV) 2024, de 2022 para 2023,
particularmente na hepatite A verificou-se um aumento de 25% e na
hepatite C um aumento de 19%.“Este aumento
poderá ser justificado, em parte, pelo surto de hepatite A e pelo
potencial aumento de consciencialização para a importância do rastreio
de hepatites, pelo menos uma vez na vida”, lê-se no documento.A
equipa liderada por Rui Tato Marinho, que realizou o relatório, aponta
que relativamente ao aparente aumento do número de casos confirmados
para a hepatite C, atingindo-se em 2023 valores similares aos
pré-pandémicos, poderá estar explicado por se estar na plena retoma da
atividade assistencial.Quanto ao aumento
da hepatite A, nota para o surto que terá começado no final do ano
passado e que levou a Direção-Geral da Saúde (DGS) a constituir uma
Equipa de Gestão e Resposta ao alerta da Hepatite A.Em
janeiro de 2024, através do Sistema Nacional de Vigilância
Epidemiológica (SINAVE), detetou-se o aumento do número de casos de
hepatite A em Portugal, numa média de cinco/seis casos por semana
superior à média semanal de 0,5 casos nos quatro anos anteriores.Salvaguardando
que estes são dados provisórios, no relatório lê-se que a investigação
epidemiológica subsequente identificou 125 casos confirmados de Hepatite
A, entre 07 de outubro de 2023 e 07 de julho de 2024.A
maioria destes casos tinha entre os 18-44 anos de idade (80%), era do
sexo masculino (85%), e da região de Lisboa e Vale do Tejo (70%).Foi,
ainda, identificado como fonte provável de transmissão a atividade
sexual em 44% dos casos, a contaminação alimentar/água em 16%, o
contacto próximo em 7% e em 33% dos casos não foi possível identificar a
via de transmissão.Reforçando a convicção
de que o aumento do número de casos estará associado ao surto, Rui Tato
Marinho destacou a importância da atuação, lembrando que a DGS criou
esta comissão de emergência para lidar com a Hepatite A, como fez com a
covid-19 ou com a hepatite aguda grave que afetou, recentemente, muitas
crianças.“Portugal está preparado. Surge
uma epidemia amanhã e rapidamente se forma um grupo multidisciplinar
para começar a atuar com modelos de atuação que podem ser comuns a
outras doenças. Portugal habituou-se a lidar com o inimigo, mesmo que
seja um inimigo que não se conheça totalmente”, disse Rui Tato Marinho,
sublinhando uma das principais recomendações do programa.“É
um dos nossos objetivos promover a vacinação da hepatite A. Não é uma
doença tão grave, mas é importante. E fizeram-se quase 60.000 doses de
vacina. Acaba por ser um marco em Portugal”, referiu.Enquanto
a vacina para a hepatite B é administrada a todas as crianças
recém-nascidas, de acordo com o esquema recomendado pelo Programa
Nacional de Vacinação (PNV), a vacina contra a hepatite A não é
recomendada por rotina, mas está recomendada em alguns grupos de risco
ou e em contexto de pré-exposição, como viagens por exemplo.São,
ainda, elegíveis para vacinação gratuita contra a hepatite A
determinadas pessoas, nomeadamente candidatos a transplante hepático e
crianças sob terapêutica com fatores de coagulação derivados do plasma.À
Lusa, Rui Tato Marinho destacou ainda que nas hepatite B e C se sabe
que “os casos identificados são inferiores ao real”: “Mas também sabemos
que muitos são crónicos, pessoas que já têm há muito tempo e só agora é
que sabem”, acrescentou.Rui Tato Marinho
falou, ainda, do aparecimento de duas hepatites mais raras, a hepatite D
(Delta, que está associada à B) e a hepatite E, mais conhecida como
causa de epidemias em África ou na Ásia.“Existem casos pontuais em Portugal e até em pessoas que não fazem viagens para países de risco”, referiu.A diminuição dos internamentos e dos transplantes por hepatite B e C foram outros dos dados destacados por Rui Tato Marinho.Quanto
à mortalidade em 2023, o diretor disse que “a morte por cirrose está
mais ou menos estabilizada e pode diminuir”, enquanto “a morte por
cancro do fígado poderá vir a aumentar”, mas este é, apontou, “um
fenómeno internacional”.“Sabemos que 37%
de quem faz tratamento à hepatite C – quase 2.000 em Portugal – tem o
fígado já estragado. As pessoas com cirrose, mesmo que eliminemos o
vírus da hepatite C, vão manter para toda a vida o risco de poder vir a
ter cancro no fígado. Têm de ser vigiados para toda a vida”, alertou.