Maioria Democrata toma hoje posse no Congresso dos EUA, fragilizando Trump
3 de jan. de 2019, 08:51
— Lusa/AO Online
As eleições
intercalares de novembro passado ditaram que o Partido Republicano
mantivesse (e até reforçasse) a maioria no Senado, mas perdesse o
controlo da Câmara de Representantes para o Partido Democrata, colocando
o Presidente dos EUA na situação de ter de negociar muitas importantes
decisões políticas com os seus adversários.A
partir de hoje, quando o novo Congresso tomar posse, a vida política de
Donald Trump fica claramente mais difícil, como já se percebe pelo
braço-de-ferro que mantém há três semanas com o Partido Democrata, sobre
o financiamento do governo, levando à sua paralisação.A
agenda legislativa dos Democratas é muito diferente da do Presidente, e
de dentro do Congresso surgem sinais de que os dois partidos se podem
entender em várias matérias politicamente sensíveis, à revelia da
vontade de Trump.“Preparem-se
para uma longa paralisação do governo”, previu Donald Trump, na véspera
de Natal, depois de ter reunido com os líderes Democratas da Câmara de
Representantes e do Senado, Nancy Pelosi e Chuck Schumer,
respetivamente, para tentar encontrar uma solução para o impasse à volta
do financiamento do governo.“Não
conte com o Partido Democrata para financiar o muro”, disse na altura
Nancy Pelosi, reportando-se à pedra angular do problema: os 5,7 mil
milhões de dólares (cerca de cinco mil milhões de euros) que Donald
Trump quer que o Congresso aprove para construir uma proteção ao longo
de toda a fronteira com o México.A
agenda política do Presidente nesta altura centra-se nas questões de
segurança interna e externa, dando prioridade à construção do muro e à
retirada de tropas norte-americanas de cenários de guerra na Síria e no
Afeganistão.Os
Democratas já anunciaram que a sua agenda legislativa se vai centrar em
temas que lhes foram muito favoráveis na campanha das eleições
intercalares de novembro, relacionados com a diminuição do custo de
medicamentos, expandir direitos de voto, aumentar impostos para as
grandes empresas e para os mais ricos e negociar a legalização de
imigrantes em condições irregulares.Nancy
Pelosi, que liderará a maioria Democrata na Câmara de Representantes,
afirmou esta semana no Twitter que também pretende introduzir medidas de
transparência na governação dos EUA, para apresentar o seu partido como
uma força política responsável, em contraste com a imagem de
irresponsabilidade de Donald Trump.O
Presidente já intuiu as dificuldades de entendimento com a nova maioria
parlamentar Democrata e terça-feira procurou estender a mão a Nancy
Pelosi, propondo-lhe um novo acordo sobre o financiamento do muro na
fronteira com o México, antecipando o bloqueio de outros entendimentos
políticos futuros.Se
o diálogo dos Democratas com Trump parece cada dia mais difícil, o
mesmo não se pode dizer da relação com os Republicanos no Congresso.Vários
congressistas Republicanos têm manifestado vontade de criar acordos de
regime, seja sobre o preço de medicamentos ou sobre o investimento em
infraestruturas e estão mesmo previstos projetos legislativos que estão a
ser desenhados pelos dois partidos.Na
terça-feira, Mitt Romney, antigo candidato presidencial Republicano e
um dos novos senadores que hoje toma posse, fez severas críticas às
opções estratégicas da administração Trump, revelando sintonia com o
Partido Democrata em algumas matérias políticas.A
reforma das leis de imigração é um dos temas em que Republicanos e
Democratas parecem querer entender-se, apesar da posição mais radical e
fechada de Donald Trump.Uma
das maiores incógnitas para os próximos dois anos é a postura da
maioria Democrata na Câmara de Representantes sobre as investigações a
processos que envolvem direta ou indiretamente o Presidente, seja sobre o
alegado conluio com o governo russo nas interferências nas eleições
presidenciais de 2016, seja sobre os negócios da família de Donald
Trump.Alguns
congressistas Democratas deram a entender que pode haver matéria de
facto para um processo de ‘impeachment’, que pode não ser consequente
(porque esbarrará contra a maioria Republicana no Senado), mas que
deixará sempre danos na imagem de Trump e condicionará a agenda
conservadora do Presidente.