Maioria de inquiridos em estudo aponta pobreza como o que mais prejudica o desenvolvimento infantil
Pobreza
17 de out. de 2023, 09:37
— Lusa/AO Online
O
estudo analisou “Perceções da população residente na cidade de Lisboa
sobre a importância dos primeiros anos de vida (0-6 anos) no
desenvolvimento da criança” e, em declarações à Lusa, o coordenador
apontou como possível explicação aquilo que as pessoas acreditam que são
as consequências da pobreza.“A pobreza em
si, tal como a riqueza, não favorece nem desfavorece o desenvolvimento
infantil. O problema é que as pessoas que vivem em [situação de] pobreza
têm, por isso, piores condições de habitação, menores possibilidades de
ter uma alimentação saudável, menor instrução ou menor informação sobre
os serviços que existem de apoio”, apontou o professor Fausto Amaro, do
ISAVE – Instituto Superior de Saúde, acrescentando que por estas
razões, existe “a probabilidade de as pessoas adoecerem mais”.Fausto
Amaro salientou que este conjunto de fatores “não são positivos para o
desenvolvimento”, motivo pelo qual acredita que as 300 pessoas
inquiridas em Lisboa nomearam a pobreza como o que mais prejudica a
infância.Com uma percentagem próxima
(87,7%), surgem as situações de conflito e violência na família ou os
problemas de saúde mental dos pais (86%), havendo também quem eleja a
exposição a ecrãs durante muito tempo (71%).Por
outro lado, 90% dos inquiridos que participaram no estudo financiado
pela Fundação Nossa Senhora Bom Sucesso, uma instituição de
solidariedade que trabalha em prol da saúde infantil, reconhecem que o
tempo que os pais dedicam aos filhos é benéfico para o desenvolvimento
infantil, tal como as crianças brincarem com outras crianças.O
coordenador do estudo salientou que “brincar com outras crianças é um
fator importantíssimo no desenvolvimento infantil”, à semelhança do
tempo dedicado pelos pais ou outros cuidadores.Fausto
Amaro apontou que esse relacionamento pode ser positivo ou negativo e
que, por isso, deve ser feita pedagogia com os pais sobre o tipo de
relacionamento que devem ter com os filhos.“Os
dados científicos atuais o que dizem é que é fundamental para as
crianças estabelecerem um vínculo com as pessoas que cuidam delas e este
fenómeno de vinculação é determinado, sobretudo, a partir dos sete
meses de idade”, explicou, acrescentando que não se trata apenas de
alimentar a criança, mas cuidar e proteger e que se isto não acontecer
“pode haver um mau desenvolvimento da criança”.O
responsável explicou que o cérebro das crianças desenvolve-se muito
rapidamente na infância, sobretudo nos primeiros três anos, sendo que
aos cinco anos já atingiu um nível de cerca de 90% de desenvolvimento.“A
estimulação sensorial é importante, mas é fundamental o aspeto
afetivo”, destacou, apontando que o estudo revela que “as pessoas
ignoram o papel do cérebro no desenvolvimento infantil”.De
facto, apenas 35,7% dos inquiridos demonstraram saber em que idade
ocorre o maior desenvolvimento do cérebro da criança. No entanto, 91%
defenderam que deve ser dada uma maior atenção ao desenvolvimento
infantil.No geral, 88,3% acreditam que um
bom ambiente familiar e social é importante para uma infância saudável e
feliz, enquanto apenas 5,7% dão importância a frequentar a creche ou o
jardim-de-infância.O inquérito revelou
também que, no que diz respeito ao papel e à importância de frequentar a
creche ou o jardim-de-infância, 79,7% acreditam que a creche serve
sobretudo para tomar conta das crianças enquanto os pais estão a
trabalhar, enquanto 83,3% dos inquiridos acham que o jardim-de-infância
serve para estimular as crianças.Para que
os pais possam ter mais tempo com os filhos, 60,7% defenderam melhores
condições de vida e 55% pediram horários de trabalho mais flexíveis,
enquanto 47% defenderam melhores horários e maior apoio económico às
famílias (46%) para melhorar a situação das crianças em Portugal.Para
o coordenador do estudo, os resultados demonstram que “a população de
Lisboa tem uma ideia do que é importante no desenvolvimento infantil,
mas ainda há uma faixa da população que deve ser esclarecida”.O
inquérito foi realizado com entrevistas presenciais a 300 pessoas com
mais de 20 anos, com uma amostra aleatória, estratificada por tipo de
freguesia, e tem um erro estimado de 6%, num nível de confiança de 95%.