Maioria de 83% votos favoráveis retira confiança política a Joacine Katar Moreira

31 de jan. de 2020, 13:49 — Lusa/AO Online

"Hoje não é um dia feliz para o partido Livre", disse Pedro Mendonça, em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa, acrescentando que "não foi uma decisão fácil ou pouco discutida".A 44.ª Assembleia do Livre ratificou assim, com a totalidade dos 41 membros presentes - 34 votos favoráveis e sete contra - a deliberação da reunião realizada antes do IX Congresso, que já tinha proposto a retirada de confiança política à deputada. Contudo, o congresso decidiu remeter para os novos órgãos uma decisão final. Segundo Pedro Mendonça, "as divergências que levaram ao divórcio e rutura não são de todo pessoais, são políticas", afirmando que Joacine Katar Moreira "não aceitou" que as decisões fossem tomadas coletivamente ou "o mínimo conselho dos seus camaradas".O porta-voz esclareceu que o Livre não irá pedir a Joacine Katar Moreira que renuncie ao mandato e que se a deputada o fizer será por sua vontade.Fonte do partido disse que o Livre comunicou a Joacine Katar Moreira, ainda durante a madrugada, a decisão da Assembleia, por email. Até ao final da manhã, disse, não havia resposta da deputada mas havia "recibos de leitura" dos e-mails a confirmar que tomou conhecimento.Em nome da direção do Livre, Pedro Mendonça acusou a deputada Joacine Katar Moreira de ter confundido autonomia com desresponsabilização e com "independência de ação". "Autonomia implica autonomia própria mas também articulação com todos os órgãos do partido, implica respeito pelos órgãos e pelos camaradas, tudo isso tem sido quebrado desde há uns meses a esta parte. Joacine Katar Moreita não articulou, não discutiu não aceitou o mínimo conselho dos camaradas", acusou.Como exemplo, e sublinhando que foi um "cumulativo" de situações a espoletar a falta de confiança política, Pedro Mendonça considerou que a deputada não traduziu na sua ação no parlamento a prioridade que o Livre dá à ecologia ou à defesa da convergência de esquerda.No debate do Orçamento do Estado para 2020, disse, Joacine "não aceitou reunir-se com o PCP e com o BE", tendo as reuniões decorrido com as direções.A gota de água, acrescentou, foi "tudo o que se passou no último congresso" em que Joacine Katar Moreira "chamou mentirosos aos seus camaradas" e manteve, após a reunião magna, a mesma postura de "impossibilidade de diálogo, de trabalho em conjunto, de trabalho colaborativo, impossibilidade da aceitação mínima de uma pequena crítica, da impossibilidade de escrutínio".Admitindo "danos para o partido" na sequência da retirada de confiança à deputada única, o dirigente disse saber que o Livre pode "pagar por isso" mas considerou que é um risco assumido, afirmando que o Livre "optou pelos valores" pelos quais se rege.Questionado sobre se o partido ponderou a expulsão de Joacine Katar Moreira do Livre, o dirigente não se quis pronunciar, justificando que o pelouro disciplinar não compete à direção política mas sim ao Conselho de Jurisdição, presidido por Ricardo Sá Fernandes. Pedro Mendonça disse ainda que o Livre irá "defender sempre" Joacine Katar Moreira, deputada negra, de ataques "fascistas, sexistas e racistas".O dirigente disse que o Livre não quer que os portugueses fiquem "reféns da agenda mediática" do deputado do partido de extrema-direita, André Ventura, que sugeriu, numa publicação no Facebook, devolver Joacine ao seu país de origem depois de a deputada ter proposto no parlamento a devolução das obras de arte dos países das ex-colónias.