Maior sensibilização leva a mais sinalizações de tráfico de seres humanos no Centro
23 de dez. de 2018, 19:26
— Lusa/Ao online
De um total de 34 sinalizações neste ano pela rede, resultaram 16 presumíveis vítimas de tráfico de seres humanos, oito homens e oito mulheres, de várias nacionalidades, registando-se cidadãos nacionais bem como oriundos de países tão distintos como Paraguai, Paquistão, Nigéria ou Moldávia, disse à agência Lusa a coordenadora da equipa multidisciplinar especializada (EME) da região, Vera Carnapete, referindo que há mais casos de exploração laboral do que sexual no Centro.O número, explicou, impressiona se se comparar com o total das situações sinalizadas entre o final de 2012 (quando a equipa foi constituída) e dezembro de 2017: 71 processos, com 44 presumíveis vítimas de tráfico.Segundo Vera Carnapete, "há situações em que existe uma sinalização, mas em que, depois, não se trata de tráfico", estando, porém, relacionadas com outros crimes e formas de exploração ou violência, como auxílio à imigração ilegal, exploração laboral sem tráfico, lenocínio ou violência doméstica.A coordenadora da EME do Centro justifica o crescimento do número de sinalizações de presumíveis vítimas com um aumento da sensibilização da população, uma crescente formação de técnicos e dos órgãos policiais, bem como com um alargamento da própria rede, que já conta com mais de 50 instituições envolvidas na região."Quando damos uma ação de formação é quase certo que dentro de uma semana e meia temos uma sinalização", frisou Sónia Araújo, técnica da EME do Centro.Segundo Sónia Araújo, a formação de técnicos dos municípios, assistentes sociais, médicos ou forças policiais torna-se fundamental para garantir mais sinalizações."Não são as próprias vítimas que nos ligam para o número de emergência - isso aconteceu-nos apenas duas vezes", aclarou Vera Carnapete.Normalmente, são técnicos ou polícias que sinalizam os casos: “Por exemplo, um médico, numa urgência ou num centro de saúde, pode aperceber-se de uma situação em que uma mulher, acompanhada por alguém, não olha para o médico, não responde a nenhuma questão e o homem que a acompanha faz questão de estar sempre presente e responder por ela. Por si só, isto não quer dizer nada, mas há todo um conjunto de sinais que faz com que este profissional fique alerta", vincou Vera Carnapete.Segundo a coordenadora da equipa, a maior parte das vítimas sinalizadas chegam dos distritos da Guarda, Viseu e Leiria, sendo expectável uma maior presença de tráfico de seres humanos no interior da região Centro, apesar de se registarem também situações no litoral."Castelo Branco e Guarda seriam distritos mais propensos e calcula-se que haja mais vítimas nessas zonas", nota, sublinhando que a rede tem neste momento o objetivo de garantir mais parceiros nas zonas onde tem menor cobertura e onde o tráfico, nomeadamente para exploração laboral, possa estar mais presente.Quem queira denunciar uma situação de tráfico de seres humanos, pode ligar para a EME do Centro (918654104), com serviço de atendimento 24 horas por dia.