Maior risco para diabetes, demência e hipertensão para quem reside junto ao aeroporto
25 de jun. de 2024, 08:44
— Lusa
As
conclusões resultam de um estudo da Federação Europeia de Transportes e
Ambiente, que explora a ligação entre as partículas ultrafinas emitidas
pelos aviões e a saúde das pessoas que vivem perto dos 32 aeroportos
mais movimentados da Europa.“O estudo
sugere que milhares de casos de hipertensão arterial, diabetes e
demência, em Lisboa e noutras cidades da Europa, podem estar ligados a
estas partículas minúsculas emitidas pelos aviões, sendo que Lisboa é a
cidade que de longe mais concentra pessoas a viver, trabalhar e estudar
nas imediações do aeroporto”, refere a associação ambientalista Zero, em
comunicado.No caso da capital portuguesa
estão em causa cerca de 414 mil pessoas (cerca de 4% da população
portuguesa) a viver num raio de cinco quilómetros do aeroporto Humberto
Delgado e que, por isso, “estão particularmente expostas e são afetadas
pelas partículas ultrafinas”.Os dados apontam para um risco de demência de 20%, de 12% para a diabetes e de 7% para a hipertensão arterial.Segundo
a Zero, o “resumo da evidência científica” para estimar a afetação na
saúde foi feito com base nos dados do aeroporto de Schiphol, em
Amesterdão, capital dos Países Baixos.“Estas
partículas são deixadas em suspensão no ar pelos aviões, dispersam-se
amplamente na atmosfera, têm um diâmetro mil vezes inferior ao de um
cabelo humano e são invisíveis. Quando inaladas, passam facilmente
através dos pulmões para a corrente sanguínea e espalham-se por todo o
organismo, podendo originar problemas de saúde sérios a longo prazo,
incluindo respiratórios, cardiovasculares, neurológicos, endócrinos e
gestacionais”, alerta a Zero.De acordo com
o estudo, estima-se que as partículas ultrafinas decorrentes da
atividade do aeroporto de Lisboa possam estar na origem de 15.473 casos
de hipertensão, 18.615 casos de diabetes e 1.837 casos de demência entre
a população da cidade e arredores.Estes números representam até 9% da população que vive num raio de cinco quilómetros do aeroporto de Lisboa.“O
estudo agora divulgado complementa o estudo da Universidade Nova de
Lisboa de 2019 que mostra inequivocamente que a concentração de
partículas ultrafinas nalgumas zonas de Lisboa sobe conforme a sua
exposição à influência do aeroporto e movimento de aviões. Dada a
proximidade do aeroporto ao centro da cidade, os efeitos das partículas
estendem-se por áreas significativas”, sublinha a Zero.As
zonas mais afetadas são nas imediações do aeroporto, nomeadamente
Alvalade, Campo Grande e Cidade Universitária, onde se situam o Hospital
de Santa Maria, universidades, escolas e jardins infantis, e sob a rota
de aproximação e descolagem dos aviões, como as Avenidas Novas, Bairro
do Rego, Amoreiras e Campolide.“Trata-se
de uma situação que não encontra semelhança em mais nenhum outro
aeroporto europeu, desastrosa para a saúde dos cidadãos de Lisboa que
vivem e fazem a sua vida nestas zonas, agravando as doenças provocados
pelo excesso de ruído”, alerta a associação.No
total dos aeroportos considerados, a exposição às partículas ultrafinas
pode estar associada a 280.000 casos de hipertensão, 330.000 casos de
diabetes e 18.000 casos de demência.“Até à
data, não há regulamentação sobre os níveis seguros de partículas
ultrafinas no ar, apesar de a Organização Mundial de Saúde (OMS) já ter
alertado há mais de 15 anos para que se trata de um poluente
preocupante”, lamenta a Zero.Nesse
sentido, para reduzir o impacto nas partículas ultrafinas na saúde, a
Zero defende a não expansão da capacidade do aeroporto Humberto Delgado e
o seu encerramento “para tão breve quanto possível, assim como a
promoção da utilização de combustíveis sustentáveis.“A
evidência mostra ainda que os trabalhadores dos aeroportos, em
particular os que trabalham na pista, são quem está mais exposto aos
efeitos das partículas ultrafinas, pelo que há que criar medidas
específicas para proteger a sua saúde”, defendem ainda.