Maior número de casos de abuso na igreja decorreu nas décadas de 60,70 e 80 - relatório
13 de fev. de 2023, 12:07
— Lusa/AO Online
Segundo a socióloga e
investigadora Ana Nunes de Almeida, a idade média das vítimas é hoje de
52,4 anos, 52,7% são homens, 47,2% são mulheres e 88,5% são residentes
em Portugal continental, principalmente nos distritos de Lisboa, Porto,
Braga Setúbal e Leiria, “mas os abusos estão espalhados por todos o
país”.Dos abusados, 53% continuam a afirmar-se católicos e 25,8% são católicos praticantes.A percentagem de licenciados é de 32,4%, enquanto 12,9% são pós-graduados.Quanto
ao tipo de abusos, os homens sofreram principalmente “sexo anal,
manipulação de órgãos sexuais e masturbação”, enquanto as mulheres
sofreram, na maior parte dos casos, de “insinuação”.Ainda
segundo os dados apresentados por Ana Nunes de Almeida, os locais onde a
maior parte dos abusos ocorreu foi nos seminários (23%), na igreja, em
diversos locais, inclusive no altar (18,8%), no confessionário (14,3%),
na casa paroquial (12,9%) e em escolas católicas (6,9%).Os
abusados que deram os seus testemunhos, na altura dos abusos residiam
com os pais (58,6%), 1/5 estavam institucionalizados, enquanto 7,8%
pertenciam a famílias monoparentais. Os abusos ocorreram principalmente
entre os 10 e os 14 anos de idade (a média era de 11,2 anos, sendo de
11,7 no caso dos rapazes e de 10,5 no das raparigas).Por
outro lado, 57,2% foram abusados mais do que uma vez, e 27,5% referiram
que o caso dos abusos de que foram vítimas durante mais de um ano.No caso dos rapazes, um padre foi o abusador em 77% dos casos.A
Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na
Igreja Católica começou a receber testemunhos em 11 de janeiro do ano
passado.Os casos de abusos sexuais
revelados ao longo de 2022 abalaram a Igreja e a própria sociedade
portuguesa, à imagem do que tinha ocorrido com iniciativas similares em
outros países, com alegados casos de encobrimento pela hierarquia
religiosa a motivarem pedidos de desculpa, num ano em que a Igreja se vê
agora envolvida também em controvérsia, com a organização da Jornada
Mundial da Juventude, em Lisboa.Hoje será
conhecida a primeira reação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP),
presidida pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e para 03 de março
foi já convocada uma assembleia plenária extraordinária da CEP para
analisar o relatório.Liderada pelo
pedopsiquiatra Pedro Strecht, a comissão independente é ainda
constituída pelo psiquiatra Daniel Sampaio, pelo antigo ministro da
Justiça e juiz conselheiro jubilado Álvaro Laborinho Lúcio, pela
socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, pela assistente social e
terapeuta familiar Filipa Tavares e pela cineasta Catarina Vasconcelos.