Madrid decide no sábado medidas a tomar para assumir o controlo da Catalunha
19 de out. de 2017, 15:49
— Lusa/AO online
Madrid convocou este Conselho de
Ministros para “continuar os trâmites previstos no artigo 155.º da
Constituição para restaurar a legalidade no autogoverno da Catalunha”.O
Governo espanhol explicou em comunicado que, na reunião de sábado, irá
tomar “as medidas que serão levadas ao senado [câmara alta] a fim de
proteger os interesses gerais dos espanhóis, entre eles os dos cidadãos
da Catalunha, e restaurar a ordem constitucional na Comunidade
Autónoma”.Esta foi a resposta a uma carta, recebida ao início da
manhã, do presidente do Governo catalão, Carles Puigdemont, na qual este
insistia que “a suspensão [da declaração de independência] continuava
em vigor” e ameaçava votar formalmente essa independência no parlamento
regional, no caso de Madrid avançar com a suspensão da autonomia
regional.Madrid tinha dado na segunda-feira uma “última
oportunidade”, até as 10:00 (09:00 de Lisboa) de hoje, ao executivo
catalão antes de ativar o artigo 155 da Constituição espanhola e “repor a
legalidade” na comunidade autónoma da Catalunha.O artigo 155.º
da Constituição espanhola de 1978 nunca foi utilizado desde que a
democracia foi restaurada há 40 anos, na sequência do regime fascista do
General Francisco Franco, e dá ao Governo central poderes para adotar
"as medidas necessárias" para repor a legalidade, incluindo a suspensão
de uma autonomia, a detenção de dirigentes em situação ilegal, a sua
substituição e a convocação de eleições antecipadas. O Governo
espanhol vai assim avançar com as medidas concretas que pretende adotar
na Catalunha, medidas que na próxima semana terão de ser votadas no
senado, onde o Partido Popular (direita) do primeiro-ministro tem a
maioria.Mesmo que não tivesse essa maioria, Madrid não teria
qualquer problema na aprovação dessas medidas, porque tanto o PSOE
(socialistas) como o Cidadãos (centro) apoiam o Governo na crise catalã.O
PSOE, o maior partido da oposição espanhola, voltou hoje a dar o seu
apoio ao Governo de Madrid na aplicação do artigo 155.º da Constituição
para “repor a legalidade” na Catalunha, esperando que esta medida seja
“o mais breve possível” e “muito, muito limitada”.A posição foi
revelada em conferência de imprensa pelo responsável pela Organização
dos socialistas, José Luis Ábalos, que acusou o chefe do executivo
regional de ter feito uma oferta de diálogo “enganadora” e de, “mais uma
vez”, ter sido “pouco claro” e de não ter clarificado se declarou ou
não a independência.Também o líder dos Cidadãos, Albert Rivera,
afirmou, depois de conhecer a decisão do Governo espanhol, que uma
democracia europeia “não pode aceitar chantagens” de ninguém, uma
referência à carta de Puigdemont.Por seu lado, o líder do
Podemos, que faz parte da coligação de extrema-esquerda Unidos Podemos,
Pablo Iglesias, fez um apelo à “sensatez” e ao “diálogo” e pediu para se
acabar com a “dinâmica de cartas” entre Rajoy e Puigdemont, que não
trazem “nenhuma solução” e só deitam mais “lenha no fogo”.Iglesias
também lamentou o apoio do PSOE ao Governo, considerando um “erro” o
secretário-geral socialista, Pedro Sánchez, querer agora ser
“vice-presidente de Rajoy”.No comunicado distribuído, Madrid
“constata” que hoje às 10:00 (09:00 em Lisboa), “o último prazo
estabelecido”, o presidente da Generalitat (Governo regional) deu uma
“negativa” ao requerimento em que se pedia para esclarecer “de forma
clara e precisa” se alguma autoridade catalã tinha declarado a
independência.O executivo espanhol assegura que irá colocar
“todos os meios que tem ao seu alcance para restaurar quanto antes a
legalidade e a ordem constitucional, recuperar a convivência pacífica
entre cidadãos e travar a deterioração económica” na Catalunha.Na
carta em que responde ao Governo espanhol, Carles Puigdemont sublinhava
que, “se o Governo do Estado [espanhol] persiste em impedir o diálogo e
continua a repressão”, o parlamento regional “poderá proceder, se
estimar ser necessário, votar a declaração formal de independência que
não votou no dia 10” de outubro.Carles Puigdemont vem agora
esclarecer que, aquando da sua ida em 10 de outubro último ao parlamento
catalão, “não votou” nenhuma declaração de independência e sublinhar
que a sua “suspensão continua em vigor”.“Apesar de todos os
nossos esforços e da nossa vontade de diálogo, tendo a única resposta
sido a suspensão da autonomia, isso indica que não se está consciente do
problema e que não se quer falar”, conclui Puigdemont na carta enviada
no início da manhã.O Governo regional da Catalunha (a Generalitat) realizou em 01 de outubro último um referendo de autodeterminação.Segundo
a Generalitat, nessa consulta popular, considerada ilegal pelo Estado
espanhol, o “sim” à independência teve 90% dos votos dos 43% dos
eleitores que foram votar, tendo aqueles que não concordam com a
independência da região boicotado a ida às urnas.