Madeira sofreu há 10 anos temporal com 47 mortos e 600 desalojados
19 de fev. de 2020, 11:28
— Lusa/AO Online
Os
estragos materiais foram avaliados em 1.080 milhões de euros, tendo
sido atingida sobretudo a costa sul da ilha, nos concelhos do Funchal,
Ribeira Brava, Câmara de Lobos e Santa Cruz.Nesse
mês de fevereiro, durante vários dias, a chuva caiu na ilha da Madeira,
mas naquela madrugada quando registou-se uma pluviosidade de 185 litros
por metros quadrado no Pico do Areeiro, um dos pontos mais altos da
ilha.No Funchal, que tem uma média anual de 750 litros, a precipitação foi de 114 litros por metro quadrado em cerca de cinco horas.Quinze
das vítimas morreram devido à queda de uma grua na freguesia de Santo
António. Os quatro desaparecidos foram procurados até por uma equipa de
mergulhadores na marina do Funchal.Nas
estradas de acesso à cidade o Funchal, as adufas (sarjetas) foram
projetadas devido à força da água e os caudais das ribeiras
transbordaram, invadindo de surpresa várias casas.
Carros, alguns com ocupantes, foram empurrados nas ruas pela força da
água, incluindo 20 viaturas que estavam no parque da PSP. Juntaram-se troncos e grandes pedras, boiando num mar de lama que desceu as encostas até ao centro do Funchal.A
cidade ficou irreconhecível e intransitável, coberta de lama e entulho,
e as pessoas tinham de andar por cima de pedras e carros amontoados, o
que dificultou as operações de socorro. Até as embarcações do Socorro a
Náufragos (Sanas) navegaram nas ruas da cidade para retirar pessoas de
diversos locais.Lojas da baixa, centros
comerciais, parques de estacionamento, bancos, restaurantes, o Museu do
Açúcar, o arquivo do Tribunal de Contas do Funchal e o Teatro Municipal
do Funchal ficaram inundados de lama.O
concelho da Ribeira Brava, sobretudo a Serra D’Água, foi outro dos mais
afetados, com mais de uma centena de casas danificadas, tendo ficado na
memória a imagem de uma habitação que permaneceu inclinada nas rochas,
como que a ‘recusar-se’ a ser levada pelo caudal.Nesta
localidade, os militares colocaram uma ponte metálica para ajudar a
população residente numa das margens da ribeira que ficou isolada. Entre
as lágrimas e o espírito de incredulidade, os madeirenses recorreram ao
espírito de resiliência e iniciaram a operação de limpeza.No
dia seguinte, mais de 270 máquinas e 148 camiões começaram a trabalhar
para limpar o entulho, com a participação de todos, desde militares,
bombeiros, funcionários do Governo Regional e camarários, além de muitos
voluntários.O primeiro-ministro de então,
o socialista José Sócrates, foi o primeiro a deslocar-se à ilha, no dia
do temporal, e começou a ser delineada a Lei de Meios, criada para
fazer face aos prejuízos, envolvendo 740 milhões de euros até 2013: 200
milhões resultantes do Orçamento do Estado, 265 milhões por reafetação
do fundo de coesão, 250 milhões através de um empréstimo junto do Banco
Europeu de Investimentos e 25 milhões por via de verbas do PIDDAC –
Programa Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração
Central. Ao Governo Regional e ao Fundo de Solidariedade da União Europeia caberia um total de 340 milhões de euros.
A reconstrução começou a ser projetada e o então presidente do
Governo Regional, Alberto João Jardim, pediu ajuda a Bruxelas, apostado
em “pôr tudo num brinquinho”. Recusou a declaração do estado de
calamidade para não prejudicar mais o turismo da ilha e, mais tarde,
depois dos incêndios que ocorreram no verão, declarou 2010 como o “annus
horribilis” da Madeira. O realojamento
das centenas de desalojados que foram acolhidos no Regimento de
Guarnição n.º 3, no Funchal, foi uma das prioridades e uma onda de
solidariedade surgiu em todo o país. Foram decretados três dias de luto
nacional. Hoje, da memória da tragédia
ficaram visíveis a Praça do Povo, na marginal da cidade do Funchal,
construída com o depósito de inertes que foram sendo recolhidos por toda
a ilha, e um painel em memória das 51 vítimas.Além disso, algumas obras da reconstrução estão ainda por cumprir.Segundo o Governo Regional, estão executados mais de 630 euros da Lei de Meios.