Lutar contra as alterações climáticas a partir da ilha do Pico
É francês e está a desenvolver um projeto no Haiti
4 de dez. de 2017, 15:29
— Célia Machado
No
verão trocou Paris pela ilha do Pico, para uma experiência "por
tempo indeterminado", afirma. Junto com a companheira Isabelle e
o filho Ulysse, de apenas três anos, fixaram residência na Ponta da
Ilha, lugar da freguesia da Piedade. Aqui a vida é mais calma, sem o
stress citadino que sentiam em França, e há ainda um "vínculo
social que, infelizmente, se perdeu nos grandes centros urbanos".
"Temos encontrado boa gente e está a ser ótimo estar cá",
sublinha.
"Agora,
este é o meu escritório", diz-nos a sorrir, tendo como pano de
fundo as árvores e o mar.
Thomas
sente que no Pico, na sua casa virada para o Atlântico, vai
encontrar o equilíbrio necessário para poder continuar a ajudar o
meio ambiente e a própria civilização e, simultaneamente, ter
melhores condições de vida. O tempo gasto nas viagens que tem de
realizar para o estrangeiro, em parte, é maior devido à sua nova
localização mas encara como "um pequeno sacrifício" por
tudo aquilo que encontrou no Pico.
Da
China à Argentina
Níger,
República Democrática do Congo, Camarões, Marrocos, Tunísia,
Vietname, Indonésia, China, Argentina, Chile, Peru e Brasil foram
países onde já prestou os seus serviços enquanto consultor,
cooperando com governos e empresas públicas e privadas mas gostaria,
um dia, de terminar um projeto que iniciou na Colômbia, há algum
tempo.
"É
possível utilizar a floresta para ajudar a mitigar as alterações
climáticas e, em termos de ordenamento territorial, é uma
ferramenta para criar emprego, criar valor; é um produto económico",
refere Thomas Dufour, falando com paixão do seu trabalho.
Atualmente,
coopera com o Ministério do Meio Ambiente do Haiti na implementação
de um projeto que visa aproveitar diferentes atividades, como o
cultivo de café, e a floresta para produção e conservação da
biodiversidade para tentar maximizar os recursos económicos em
benefício do povo e lutar contra as alterações climáticas. Revela
que gostaria também de desenvolver algum projeto nos Açores, em
cooperação com as autoridades locais, mas, para já, vai sentindo o
pulsar da ilha e criando novas rotinas familiares. O pequeno Ulysse,
que nas primeiras semanas ia escondendo a timidez por detrás dos
sorrisos, já vai à escola e no seu vocabulário há cada vez mais
palavras portuguesas, que consegue juntar em frases. Apesar de
conhecerem o Pico há alguns anos - primeiro Isabelle, através de
amigos, e só mais tarde Thomas - este será o primeiro inverno na
ilha. As chuvas dos últimos dias deram-lhes uma ideia do que os
espera nos próximos meses mas estes três franceses, cada vez mais
picoenses, estão entusiasmados com a mudança para o Pico, para a
casa que compraram há dois anos e que, no início, seria apenas para
passarem férias. Viver na Piedade, naquela altura, "era apenas
um sonho".