'Lucros extraordinários das energéticas devem apoiar os mais precisam'
Estado da União
14 de set. de 2022, 11:47
— Lusa/AO Online
“Não
me interpretem mal. Na nossa economia social de mercado, os lucros são
bons, mas, nestes tempos, é errado receber receitas e lucros
extraordinários recordes beneficiando da guerra e nas costas dos nossos
consumidores, [pelo que], nestes tempos, os lucros devem ser partilhados
e canalizados para aqueles que mais precisam”, declarou Ursula von der
Leyen, intervindo no seu terceiro discurso sobre o Estado da União, na
sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de
Estrasburgo.De acordo com a líder do
executivo comunitário, “estas empresas estão a fazer receitas que nunca
contabilizaram, com que nunca sequer sonharam”.Por
isso, a ideia desta taxação aos lucros extraordinários seria obrigar os
“produtores de eletricidade a partir de combustíveis fósseis a dar uma
contribuição para a crise”, fazendo com que esta taxa obtenha verbas
para apoios sociais, explicou Ursula von der Leyen.“A
nossa proposta vai angariar mais de 140 mil milhões de euros para os
Estados-membros amortecerem diretamente o golpe”, precisou.Na
sua intervenção, a líder do executivo comunitário anunciou também uma
meta para “reduzir a procura [de eletricidade] durante as horas de
ponta, que fará com que a oferta dure mais tempo e baixará os preços”.“Quando
eu olho para a eletricidade, milhões de europeus precisam de apoio e é
por isso que estamos a propor um limite às receitas das empresas que
produzem eletricidade a baixo custo”, acrescentou, referindo-se,
nomeadamente, à produção a partir de energias renováveis.“Todas estas são medidas de emergência e temporárias”, concluiu Ursula von der Leyen.Na
atual configuração do mercado europeu, o gás determina o preço global
da eletricidade quando é utilizado, uma vez que todos os produtores
recebem o mesmo preço pelo mesmo produto — a eletricidade — quando este
entra na rede.Na União Europeia (UE), tem
havido consenso de que este atual modelo de fixação de preços marginais é
o mais eficiente, mas a acentuada crise energética, exacerbada pela
guerra da Ucrânia, tem motivado discussão.Uma
vez que a UE depende muito das importações de combustíveis fósseis,
nomeadamente do gás da Rússia, o atual contexto geopolítico levou a
preços voláteis na eletricidade.As tensões
geopolíticas devido à guerra da Ucrânia têm afetado o mercado
energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, com a
Rússia a ter sido no ano passado responsável por cerca de 45% dessas
importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros, uma
percentagem que é agora de 9%.Em Portugal, o gás russo representou, em 2021, menos de 10% do total importado.