Livro sobre Rabo de Peixe aborda intervenções urbanisticas na vila
A arquiteta Inês Rodrigues lamentou hoje a falta de um grande trabalho de avaliação prévia nas intervenções urbanísticas realizados nos últimos anos na vila de Rabo de Peixe, nos Açores

Autor: LUSA/AO online

"As intervenções feitas na vila de Rabo de Peixe foram imensas nos últimos anos, mas, no fundo, falta um trabalho muito grande em termos de avaliação e de planeamento das próprias intervenções e (…), depois, isto resulta numa espécie de manta de retalhos e o território não se relaciona", disse Inês Rodrigues, autora da obra “Rabo de Peixe: sociedade e forma urbana”, que é lançada em novembro no Arquipélago, Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, ilha de São Miguel.

O livro, de 180 páginas, que resulta da sua tese de mestrado, analisa a vila de Rabo de Peixe, a principal comunidade piscatória dos Açores, que, segundo a autora, "é um caso ímpar a nível regional e nacional – pelas suas características morfológicas, demográficas e económicas".

“O que se falava sobre Rabo de Peixe intrigava-me, por causa dos discursos fatalistas, as notícias e a vila sempre associada a um certo estigma de pobreza e problemas sociais”, referiu.

A obra "questiona as práticas do ramo disciplinar da arquitetura e do urbanismo, nomeadamente a propósito das políticas excessivamente centradas nas infraestruturas, na habitação e no confinamento local, sendo que a zona piscatória, localizada a Norte da freguesia, constitui um caso inegável de insularidade dentro da ilha", salienta a sinopse do livro, que pretende ser "um contributo para um estudo, necessariamente continuado, a propósito das intervenções urbanísticas como instrumento de política social".

A arquiteta, que trabalha e vive em Paris desde 2015, salientou que “não se pode separar a questão urbanística da questão social”.

“São conhecidas duas zonas: a zona alta onde vivem as pessoas mais abastadas, e a zona baixa onde se encontra a comunidade piscatória. Quando se atravessa o limite entre uma zona e outra sente-se a diferença entre a zona alta e a zona baixa”, salientou.

Apesar de destacar os grandes investimentos que foram feitos nos últimos anos na vila em termos de equipamentos e saneamento básico, a arquiteta considerou que tinha sido necessário definir estruturas, indicar caminhos e desencadear dinâmicas, considerando ser muito importante haver um debate sobre o planeamento urbanístico.

Inês Rodrigues, nasceu em Tomar, em 1988, mas residiu em Sâo Miguel, tendo feito a licenciatura na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Em 2012 concluiu o Mestrado em Arquitetura.