Autor: Tatiana Ourique
O primeiro passo foi dado pelos amigos “Luíses”, mas a primeira proposta não estava relacionada com a efeméride: “tínhamos apresentado uma ideia diferente à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo que acolheu positivamente, mas decidiu propor-nos antes este projeto, no âmbito das celebrações dos 40 anos da elevação de Angra a Património Mundial. E em boa hora o fez”, disse Luís Filipe Borges em entrevista ao Açoriano Oriental.
O escritor, guionista e apresentador açoriano assume que esta é uma obra de cariz mais intimista e confessional. “Existem diversos trabalhos de excelente qualidade, e temo-los visto recentemente (como por exemplo a magnífica minissérie documental que a RTP Açores acaba de exibir, "Cidade de Heróis"), sobre este assunto - num foro mais institucional, académico, de investigação. Pensamos que fica bem juntar a essa galeria um projeto mais intimista, confessional, que é a abordagem de dois amigos, dois filhos da terra, dois indivíduos que são - de certa forma - filhos do Património Mundial (o Luís, aliás, tem exatamente 40 anos). Procurámos uma dança suave entre intérpretes de dois ofícios, o da fotografia e o da crónica. E é no fundo uma declaração de amor à nossa cidade”.
Habituado ao trabalho com as palavras, Luís Borges explica o título “Angra da Humanidade” garantindo que o sentido é mais abrangente do que a classificação como património: “De facto, como primeira cidade europeia do Atlântico; como urbe que nasceu em tempo recorde (para os padrões da época, e não só); como ponto geoestratégico de relevância internacional há séculos; mesmo como cidade que foi duas vezes capital do reino; a História de Angra - essa mesma que lhe valeu o acrescentar do epíteto "do Heroísmo" - justificava desde muito antes uma classificação como a que a UNESCO merecidamente lhe atribuiu há 4 décadas. A ideia da Humanidade neste título é precisamente essa, bem como um símbolo da Angra presente, onde o contacto com o mundo - por via sobretudo do turismo - continua parte indefetível das suas características”.
Um trabalho de orgulho, de amor e de honra, garante o escritor: “O privilégio de vê-lo solicitado desde logo pelo nosso Município, e também uma forma de retribuir aquilo que Angra me dá todos os dias, através da saudade, da memória e do sonho sempre presente de regressar”.
Este livro conta com o olhar do premiado fotojornalista angrense Luís Godinho que, antes de mais, é amigo próximo de Luís Filipe Borges. Por esse motivo o trabalho foi “muito fácil e muito feliz, somos grandes amigos, divertimo-nos a trabalhar e só queria que todos os projetos pudessem ter esta harmonia e propósito comuns. Procurámos convidar o leitor a passear connosco por Angra durante 24 horas, enquanto empreendemos também jornadas solitárias: o Luís fotografou primeiro e eu escrevi depois, com a enorme vantagem de ter à minha disposição 2000 fotografias para escolher e nas quais me inspirar. Além de textos inéditos, naturalmente, encontramos alguns antigos - que fui publicando ao longo de muitos anos de colaboração com a imprensa nacional. Deu-me um prazer enorme vasculhar os arquivos e encontrar aquilo que já desconfiava. Angra é sempre um tópico regular das minhas crónicas. Aos 40, aos 30, aos 20. Aliás, a última crónica do livro (acrescentada de uma espécie de epílogo) é o texto mais antigo que encontrei com a cidade natal como tema. Escrito há um quarto de século, aos 21. E só de responder isto já me sinto com vontade de marcar um check-up urgente”, diz o autor entre risos.
Luís Filipe Borges assume a sua visão “enviesada” de quem vive longe da cidade natal e admite que olha para ela “como um verdadeiro 'estrangeirado', ou seja, com um olhar certamente mais doce do que quem nela reside. Angra do Heroísmo, para quem está a 1500 Quilómetros de distância, guarda apenas o muitíssimo que tem de bom, de ótimo, de ideal”, assume o guionista que elogia os registos fotográficos do amigo Luís Godinho ao longo dos 6 quilómetros quadrados do centro histórico de Angra, objeto da classificação da UNESCO como Património Mundial da Humanidade: “É um trabalho extraordinário, aliás outra coisa não seria de esperar de um dos fotógrafos mais premiados da sua geração (mesmo a nível mundial). Também é importante notar que este é sobretudo um livro em que o texto tenta servir a imagem, mas é esta quem lidera a dança”.
O livro “Angra da Humanidade” pode ser adquirido na loja da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e na mítica papelaria Adriano, mesmo junto à Praça Velha, em Angra. “Mas penso que, até por ser uma edição da Nova Gráfica, poderá ser em breve encontrado online”, acrescenta.
Há, ainda, a probabilidade do trabalho agora editado em livro ter uma versão expositiva de fotografia em 2024.
“Luíses” juntos em mais um projeto: “Caixa Negra – Arca de Memórias Açorianas”