Literacia azul chega a 60 escolas açorianas com cerca de 300 professores formados
7 de jul. de 2021, 13:30
— Lusa/AO Online
“O
objetivo é, tal como o nome indica, criar uma geração de cidadãos que
têm não só conhecimentos diferenciados em relação ao oceano, mas que
reconhecem a sua importância e são ativos em relação à sua conservação”,
explicou à Lusa a responsável pelo projeto de Literacia Azul da
Fundação Oceano Azul, Rita Borges.Esta
iniciativa junta a fundação e o Oceanário de Lisboa e pretende chegar a
alunos do 1.º ciclo, disponibilizando, para isso, formação e recursos
educativos aos professores do ensino básico.A
abordagem é “muito holística, muito interdisciplinar, alinhada com o
programa do 1.º ciclo, de forma a que os professores possam, dando
exemplos do oceano, trabalhar os currículos de Matemática, Estudo do
Meio, Português ou expressões físico motoras”, detalhou Rita Borges.“Ao
mesmo tempo, também permite trabalhar aspetos como a cidadania e,
portanto, também serve para a flexibilidade do currículo, que é cada vez
maior”.Os
temas vão desde o funcionamento dos ecossistemas marinhos e a
“importância que o oceano tem como regulador do clima, ou para nos
fornecer oxigénio”, até à sua dimensão económica, cultural e histórica.Os
professores são “parceiros fundamentais”, porque “são eles que vão
capacitar estes futuros agentes de mudança” e, para isso, “precisam de
ser capacitados eles próprios com conhecimento em relação ao oceano e
precisam de recursos que lhes permita a tal abordagem mais prática e a
inserção destes temas nos currículos do 1.º ciclo”.Nos
Açores, estão já formados cerca de 300 professores que já implementaram
o projeto em 60 escolas nas ilhas de São Miguel, Terceira, Pico e
Faial.E, se foram desenhados para os primeiros quatro anos do ensino básico, rapidamente extravasaram.Foi
esse o caso da EBI de Água de Pau, em São Miguel, conta à Lusa a
professora Graça Sociedade, que, com a sua colega Elsa Ferreira, levou o
projeto a 38 alunos do 4.º ano, que o levaram consigo para o 2.º ciclo.Com
um objetivo final de fazer uma visita ao Oceanário de Lisboa, intenção
prejudicado pela pandemia de covid-19, foram os próprios pais dos alunos
que fizeram força para que o projeto não morresse na praia e
continuasse no 5.º ano.“Isso mostra que o projeto teve muito sucesso”, considera a docente.Naquela
escola, o tema mais explorado foi o dos plásticos, com “ações de
sensibilização, a partir da escola, e que passaram da escola para a
comunidade”.Os
próprios alunos mudaram os seus comportamentos, notou a professora,
referindo que deixaram de utilizar as palhinhas que vêm com os pacotes
de leite distribuídos à hora do lanche.Mas
o mar esteve presente também nas aulas de Português, “com a
literatura”, através “das músicas”, foram exploradas as questões
culturais e entranhou-se também no programa de Matemática, “com
conceitos como o de milhão”.Graça
Sociedade destaca também o impacto que o projeto teve nas famílias: “Em
Água de Pau, o sustento de muitas famílias é o mar. Muitos dos
pescadores, por vezes, não têm essa preocupação, nomeadamente com o
lixo. Nós fizemos essa sensibilização, chamámos algumas pessoas à
escola, os pais foram convidados e eles [os alunos] apresentaram
trabalhos sobre o que irá acontecer dentro de 50 anos, se não tivermos
cuidados com o mar. Com as coisas que os pais foram dizendo,
compreendemos que alguma coisa os alunos levaram para casa”.Também
na EBI de Angra do Heroísmo, sob a alçada da professora Sandra
Rodrigues, o projeto Educar para uma Geração Azul extravasou o 1.º ciclo
e as fronteiras da escola, da ilha, até do arquipélago, chegando a
outros países da Europa.A
professora implementou esta iniciativa numa turma de regime educativo
especial, para alunos que não concluíram o ensino primário, mas já não
têm idade para frequentar uma escola de 1.º ciclo, frequentando uma
turma com currículo adaptado.Fundindo
o projeto da Fundação Oceano Azul com o projeto eTwinning, que une
várias escolas europeias, a literacia azul chegou a duas escolas na
Terceira, uma em São Jorge, duas no Pico e ainda escolas na Turquia, em
Espanha e na Itália.“Foi
uma mais-valia, porque todos percebemos que era mesmo um oceano comum a
todos. Foi mais enriquecedor do que estávamos à espera, tanto para os
alunos como para nós, professores”, considera Sandra Rodrigues.Os
alunos aprenderam “como é o oceano” e foram sensibilizados para algumas
das ameaças que enfrenta, vendo documentários, por exemplo, mas foram
também promovidas “limpezas da orla costeira entre todas as escolas e
exposições com o lixo recolhido”, tudo “de forma colaborativa”, destaca a
docente.Também
nesta escola da ilha Terceira a pandemia veio trocar as voltas, mas foi
possível “fazer muita coisa em casa”, com o “apoio dos pais e da
família”.Para
esta professora, a formação e os recursos educativos disponibilizados
“são muito úteis, consegue-se fazer uma abordagem muito fluida, não dá
muito trabalho, ao contrário do que se pensa”.“O
único esforço extra, se calhar, é olhar bem para os materiais e
perceber a riqueza que está ali, porque temos pistas imensas para
trabalhar a área da Matemática, a área de Estudo do Meio, Português,
fichas que nos ajudam com as explorações possíveis”, adianta.Com
quase 300 professores formados nos Açores, a Fundação Oceano Azul e o
Oceanário de Lisboa não baixam os braços e preparam-se já para continuar
o esforço, com ações de formação para docentes a decorrer durante o mês
de julho e em setembro.