Lisboa, Porto e Almada com elevados vestígios de uso de drogas nas águas residuais
22 de mar. de 2023, 09:45
— Lusa/AO Online
O
estudo - referente aos anos de 2021 e 2022 e que analisou as águas
residuais de 104 cidades de 20 Estados-membros da União Europeia e da
Turquia - revela, a nível global, “um aumento nas deteções de cocaína e
de metanfetaminas" e descreve como a análise das águas das Estações de
Tratamento das Águas Residuais (ETAR) consegue fornecer "uma visão cada
vez mais alargada da dinâmica do uso e da disponibilidade de drogas”.A
análise das águas residuais feita pelo estudo do Observatório Europeu
das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês) mostra
Portugal a par com a Bélgica, Países Baixos e Espanha como um dos
principais utilizadores de cocaína entre as cidades da Europa ocidental e
meridional estudadas, mas o documento considera “significativo” que
todas as seis drogas sujeitas a investigação (cocaína, metanfetamina,
anfetamina, MDMA, cetamina e canábis) tenham sido encontradas em quase
todas as cidades participantes.No que se
refere à cocaína, foram detetados aumentos de consumo em Lisboa e Almada
e uma situação estável no Porto relativamente a 2021, enquanto a nível
global, os resultados agora divulgados apontam para um crescimento
contínuo nas deteções desta droga, uma tendência que vem a ser observada
desde o início deste tipo de estudo, em 2016, “apesar de algumas
flutuações durante os confinamentos relacionados com a covid-19”.A
situação das metanfetaminas “parece estar a evoluir”, com vestígios a
serem detetados em mais cidades, tendo Lisboa sido um das que no ano
passado registou um aumento face a 2021, não tendo sido registados
vestígios da substância no Porto, como disse à agência Lusa o analista
do EMCDDA João Pedro Matias. Tradicionalmente
concentrada na Chéquia e na Eslováquia, esta droga está atualmente
presente também na Bélgica, no leste da Alemanha, em Espanha, em Chipre e
na Turquia e em vários países do norte da Europa (como Dinamarca,
Letónia, Lituânia, Finlândia e Noruega). Das 60 cidades para as quais
existem dados relativos a 2021 e 2022, quase dois terços (39) reportaram
um aumento nos resíduos, 15 delas uma diminuição e seis outras uma
situação estável.Lisboa e Almada
apresentam igualmente um aumento nos consumos de MDMA/Ecstasy, enquanto
no Porto os dados são similares aos de 2021.A
tendência de consumo de MDMA/Ecstasy “é menos clara” a nível global, já
que das 62 cidades com dados para 2021 e 2022, 28 comunicaram um
aumento nas deteções de MDMA (principalmente em localidades do sul e
centro da Europa), 27 uma diminuição (principalmente no norte da Europa)
e sete uma situação estável. Os resíduos mais elevados de MDMA foram
encontrados em cidades da Bélgica, Chéquia, dos Países Baixos, da
Espanha e de Portugal.No que se refere à
canábis, a droga mais consumida em toda a União Europeia, as três
cidades portuguesas observadas tiveram “aumentos ligeiros” de consumo em
comparação com 2021, constando contudo Portugal do grupo das cidades da
Europa ocidental e meridional, juntamente com as da Chéquia, Espanha e
Países Baixos, onde foram registadas as cargas mais elevadas dos
metabolitos desta droga (THC-COOH).Porém,
em 2022 foram observadas tendências divergentes no consumo desta
substância, com 18 das 36 cidades a relatarem uma diminuição desde 2021,
15 um aumento e cinco uma situação estável.O
relatório apresenta também uma “maior disponibilidade e uso” de
cetamina, droga que foi incluída no ano passado pela primeira vez na
análise, sendo as maiores cargas detetadas em águas residuais de cidades
da Dinamarca, Itália, Espanha e Portugal (Lisboa).A
cetamina, ou quetamina, é um poderoso medicamento tranquilizante,
sobretudo usado na veterinária, e que tem efeitos
psicadélicos/dissociativos quando usado pelos seres humanos.Relativamente
às anfetaminas, o nível de resíduos variou entre cidades, com as cargas
mais elevadas a serem reportadas em cidades do norte da Europa
(Bélgica, Alemanha, Países Baixos, Finlândia e Suécia) e níveis muito
mais baixos nas cidades do sul. Portugal não apresenta valores
significativos.Das 55 cidades que
apresentaram dados de resíduos de metanfetaminas para 2021 e 2022 “o
quadro foi misto”, com 20 a reportarem um aumento, 26 uma diminuição e
nove uma situação estável.O estudo, que
analisou águas residuais de 54 milhões de pessoas, revelou grandes
diferenças entre cidades do mesmo país, o que, segundo o observatório
das drogas sediado em Lisboa, pode ser explicado pelas suas diferentes
características geográficas, sociais e demográficas (distribuição
etária, universidades e existência de vida noturna, entre outras).