Lisboa defende redução de voos e recusa aumento da capacidade
Aeroporto
26 de set. de 2024, 10:56
— Lusa/AO Online
Em reunião pública, o executivo
municipal aprovou, por unanimidade, uma moção com estas deliberações, na
sequência da junção de propostas do PCP e da liderança PSD/CDS-PP, com a
consensualização do documento entre todas as forças políticas, com
várias versões até se chegar à finalíssima.Na
moção, a Câmara de Lisboa, sob presidência de Carlos Moedas (PSD), que
governa sem maioria absoluta, deliberou “afirmar a necessidade de
reduzir o número de movimentos por hora e recusar liminarmente qualquer
aumento da capacidade aeroportuária do AHD, atendendo aos impactos
negativos muito significativos sobre a cidade de Lisboa, que já hoje são
sentidos pela população, nomeadamente ao nível da saúde pública, da
segurança e do ambiente”.“Defender a necessidade de eliminação dos voos noturnos” é outra das deliberações do executivo municipal.Esta
posição do município inclui também a defesa pelo encerramento
definitivo do AHD “tão rapidamente quanto possível, em menos de dez
anos”, devendo este manter-se em funcionamento apenas o tempo mínimo
imprescindível até à entrada em funcionamento do novo aeroporto de
Lisboa nos terrenos do Campo de Tiro de Alcochete, que deve ser
construído e entrar em funcionamento num horizonte temporal "inferior ao
anunciado pelo Governo".A câmara
sublinhou que "qualquer intervenção que ocorra neste período no AHD se
deve limitar à otimização da operação, sem que daí resulte qualquer
aumento da capacidade do AHD, nem qualquer aumento do tráfego face à
situação de referência", afirmando que as obras de expansão, aprovadas
pelo atual Governo, "são inaceitáveis".Em
causa está uma decisão do atual Governo (PSD/CDS-PP/PPM), através da
resolução do Conselho de Ministros n.º 67/2024, para aumentar a
capacidade aeroportuária no AHD, em número de movimentos por hora, de 38
para 45, e em número de passageiros, de 33,6 milhões para entre 40 a 45
milhões.Apesar de o trabalho de
consensualização, todas as forças políticas no executivo municipal,
nomeadamente a liderança PSD/CDS-PP, PS, PCP, Cidadãos Por Lisboa
(eleitos pela coligação PS/Livre), Livre e BE apresentaram declarações
de voto por não se reverem em pleno na moção, mas reforçando a
importância de uma posição conjunta da câmara.O
social-democrata Carlos Moedas saudou a disponibilidade de todos para
“conseguir trabalhar acima dos partidos, acima da política, para os
lisboetas” e apoiou o Governo pela “coragem de tomar a maior decisão de
todas”, que é ter um novo aeroporto, para “não haver voos em Lisboa”.“Não
me revejo na grande parte da linguagem desta moção, sobretudo no seu
preâmbulo e sobretudo numa certa defesa ou proteção do Governo anterior,
mas a bem dos lisboetas aceitei realmente e dei muitos passos para que
possamos ter esta moção conjunta”, declarou o presidente da câmara.Carlos
Moedas referiu que “foi o Governo anterior (PS) que decidiu 72
movimentos por hora, quando hoje temos 38” na Área Terminal de Lisboa,
que inclui o AHD, Montijo, Cascais e outros pequenos aeroportos da
região, “portanto este Governo diminuiu esse número de movimentos”.A
moção que PSD/CDS-PP tinha apresentado era nesta linha de raciocínio,
tendo o PS a considerado que se tratava de “atirar areia para os olhos”
ao associar o aumento para 72 movimento apenas à capacidade
aeroportuária da cidade de Lisboa e o PCP a recusar acolher essa
informação “factualmente errada”.“Mesmo
nestas diferenças que apresento, é sobretudo importante dizer aos
lisboetas: “Estamos de acordo que não queremos mais voos noturnos,
estamos de acordo que queremos rapidamente o novo aeroporto, queremos
que esse aeroporto seja feito o mais rapidamente possível, porque isso é
que vai permitir ter zero movimentos por hora em Lisboa, e queremos que
o concessionário faça as obras para melhorar, otimizar a
operacionalidade daquilo que é aeroporto, que hoje é criticado”, expôs.Da
vereação do PS, Inês Drummond considerou que “esta moção é um marco
importante, porque era preciso uma posição firme da cidade de Lisboa em
relação às obras de expansão do AHD”, indicando que a moção de
PSD/CDS-PP “defendia, na prática, os interesses e as posições da ANA –
Aeroportos de Portugal” e que pretendia atacar o anterior Governo (PS), e
enaltecendo o “enorme esforço” de Carlos Moedas para convergir num
documento com foco nos interesses da cidade e dos lisboetas.A
socialista lembrou que o PS apresentou uma moção, que aguarda
agendamento, para que a câmara exerça as suas competências para “impedir
obras ilegais”, inclusive com uma providência cautelar para prevenir
obras de aumento da capacidade aeroportuária do AHD, bem como a
responsabilização da ANA pelo “incumprimento do plano de ruído”.O
vereador do PCP João Ferreira valorizou a aprovação da moção,
considerando que faz “justiça às centenas de milhares de pessoas que
todos os dias são prejudicadas pelo funcionamento do aeroporto”, sem
esquecer as responsabilidades históricas, “designadamente os sucessivos
governos,” pela atual situação e sublinhando que é importante que esta
posição do município “seja mesmo para valer”, em particular pelo
presidente da câmara em toda a interação com o Governo e os agentes
económicos.O PCP expôs dúvidas sobre
interações entre a câmara e operadores económicos que têm em vista
investimento no AHD com períodos de amortização que vão “muito além do
horizonte temporal” determinado para o funcionamento deste aeroporto,
referindo-se a um projeto da empresa DGL, tendo a liderança PSD/CDS-PP
esclarecido que existe um processo para a ampliação das atuais
instalações e está em apreciação no departamento de Urbanismo.Dos
Cidadãos Por Lisboa, Rui Franco disse que esta moção “é um passo muito
importante”, com a câmara a defender o interesse público, da qualidade
de vida de quem reside e trabalha na cidade “prevaleça sobre o interesse
particular e comercial da Vinci”, referindo que a antecipação da
transferência da atividade aeroportuária para fora da malha urbana “é a
única opção que protege, no presente e no futuro, os lisboetas”.Patrícia
Gonçalves, do partido Livre, congratulou-se com a moção e afirmou que
“é essencial que Lisboa deixe de ter um aeroporto a dois quilómetros do
seu centro” e que a saúde de todos os que vivem e trabalham na cidade
seja protegida, sublinhando a necessidade de cumprimento da lei do ruído
e o fim dos voos noturnos entre as 23:00 e as 07:00, horário que não
está mencionado na moção por ser uma das cedências para se chegar a um
consenso.A vereadora única do BE, Beatriz
Gomes Dias, sublinhou a importância desta posição conjunta da câmara,
afirmando que representa “uma defesa inequívoca dos interesses das
pessoas que vivem e trabalham em Lisboa e uma não capitulação aos
interesses da concessionária”, realçando a necessidade de proibir os
voos e ressalvando que algumas das posições “não traduzem plenamente” o
que o seu partido defende.Em meados de
maio, o Governo aprovou a construção do novo aeroporto da região de
Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete, seguindo a recomendação da
Comissão Técnica Independente (CTI).Ao
escolher a localização do novo aeroporto, o Governo propôs a expansão do
Humberto Delgado, passando dos atuais 38 movimentos por hora para 45
movimentos.O Campo de Tiro da Força Aérea,
também conhecido como Campo de Tiro de Alcochete (pela proximidade
deste núcleo urbano), fica maioritariamente localizado na freguesia de
Samora Correia, no concelho de Benavente (distrito de Santarém), tendo
ainda uma pequena parte na freguesia de Canha, já no município do
Montijo (distrito de Setúbal).