Líderes da UE tentam fechar dossiês-chave com Portugal particularmente atento
9 de dez. de 2020, 17:42
— Lusa/AO Online
Curiosamente,
as duas questões que estão a deixar a União em suspenso não fazem parte
da agenda oficial do Conselho Europeu: o impasse na aprovação do plano
de recuperação da União Europeia para superar a crise da covid-19 e nas
negociações sobre as relações futuras com o Reino Unido no pós-Brexit.Na
ausência de compromissos nestas duas matérias até final do ano, tal
significaria que a União Europeia e a presidência portuguesa iniciariam
um ano sem a ‘bazuca’ de 1,8 biliões de euros para recuperar da crise – e
somente com um orçamento anual de emergência -, e com um ‘Brexit’
desordenado, sem acordo comercial.Várias
fontes europeias mostram-se convictas de que a questão do orçamento
plurianual da União e do Fundo de Resolução ficará encerrada durante
este encontro de chefes de Estado e de Governo da UE – que o presidente
do Conselho, Charles Michel, insistiu que fosse presencial, precisamente
para facilitar compromissos em questões delicadas -, mas não esperam
desenvolvimentos nestes dias quanto à relação futura com o Reino Unido.Relativamente
ao bloqueio no plano de relançamento europeu, o Presidente polaco
adiantou hoje que já foi alcançado um acordo "preliminar" com a
presidência alemã do Conselho da UE, mas esta não confirma e sublinha
que qualquer acordo tem de ser validado pelos 27, sendo que vários
Estados-membros já advertiram que não aceitarão qualquer
“enfraquecimento” do mecanismo do Estado de direito.Na
véspera da cimeira, fontes do Conselho Europeu escusaram-se hoje a
traçar cenários alternativos para superar o veto de Hungria e Polónia ao
orçamento plurianual e ao plano de recuperação devido ao mecanismo de
condicionalidade no acesso aos fundos ao respeito pelo Estado de
direito, alegando que “prosseguem as negociações” com Budapeste e
Varsóvia, conduzidas pela atual presidência alemã do Conselho da UE.Dada
a urgência no acesso aos fundos, certo é que a União quer a todo o
custo ultrapassar o mais rapidamente possível este bloqueio e,
reiterando repetidamente que o objetivo é seguir em frente com os 27 a
bordo e que não há ‘plano B’ para o acordo alcançado ‘a ferros’ na
maratona de quatro dias e quatro noites em julho passado, se Hungria e
Polónia não levantarem o seu veto, os restantes 25 estão dispostos a
avançar noutra modalidade.“Acredito que
podemos chegar a um acordo sobre um pacote comum que permita uma rápida
implementação tanto do Quadro Financeiro Plurianual como do Fundo de
Recuperação”, escreveu hoje Charles Michel na carta-convite dirigida aos
chefes de Estado e de Governo.Relativamente
às discussões com o Reino Unido, fontes europeias asseguram que não é
suposto ser ‘fechado’ um compromisso nesta cimeira, nem tão pouco está
agendado um debate, havendo quanto muito uma exposição da presidente da
Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sobre o estado das negociações,
na sequência do jantar de trabalho de hoje à noite, em Bruxelas, com o
primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.As
mesmas fontes garantem que mudar o mandato dado ao negociador-chefe
Michel Barnier está completamente fora de questão, assim como “embarcar
em novos debates” depois de tanto tempo já investido nas discussões com
Londres, pelo que o Conselho aguarda apenas que a Comissão lhe indique
se há condições para um compromisso e, em caso afirmativo,
pronunciar-se-á se concorda com o mesmo, que também terá de ser aprovado
pelo Parlamento Europeu. Com estes dois
temas a ‘ensombrar’ os trabalhos da cimeira, os chefes de Estado e de
Governo têm uma agenda repleta, e pelo menos dois outros dossiês sobre a
mesa, estes sim na agenda oficial, poderão mesmo transitar para o
próximo semestre: as sanções à Turquia devido às suas ações no
Mediterrâneo Oriental e um acordo sobre as metas climáticas para 2030.De
acordo com a agenda da cimeira, os trabalhos deverão começar cerca das
13:00 locais (12:00 de Lisboa), com um ponto da situação sobre a
pandemia da covid-19 na Europa, incluindo os progressos a nível de
aprovação de vacinas e um gradual levantamento de restrições.Segue-se
um debate sobre as alterações climáticas, sendo objetivo do Conselho
acordar uma nova meta de redução de emissões da UE para 2030 (uma
redução de 50% em vez dos atuais 44%), com vista a atingir o objetivo
assumido pela UE de alcançar a neutralidade carbónica em 2050, mas
várias fontes europeias concordam que será difícil ‘fechar’ um
compromisso, face às reservas de alguns Estados-membros mais dependentes
de combustíveis fósseis, com Polónia à cabeça.Durante
esta cimeira, os líderes discutirão ainda matérias de segurança –
designadamente o combate ao terrorismo e extremismos -, relações
externas, com destaque para as relações com os Estados Unidos à luz da
eleição de Joe Biden para a Casa Branca, a «vizinhança a sul» e a
situação no Mediterrâneo Oriental, sendo neste último ponto que tentarão
chegar a um compromisso, difícil sobre sanções à Turquia, há muito
reclamadas por Grécia e Chipre.Na
sexta-feira haverá também lugar a nova Cimeira do Euro, em formato
inclusivo – com a participação também dos países que não fazem parte da
zona euro -, centrado na União Bancária e na União de Mercados de
Capitais.Os trabalhos deverão ser
concluídos na sexta-feira à tarde, mas diferentes fontes europeias
admitem que possam ser prolongados. Na semana passada o próprio
primeiro-ministro, António Costa, já revelou ter dado conta a Charles
Michel da sua disponibilidade para ficar “mais alguns dias” em Bruxelas,
dado considerar imperioso encerrar o pacote de relançamento da economia
europeia.Na conferência de imprensa final
do Conselho, a chanceler alemã, Angela Merkel, juntar-se-á aos
presidentes do Conselho e da Comissão, em jeito de despedida da
presidência semestral alemã do Conselho da UE, que dentro de três
semanas passará o testemunho à portuguesa. Com ou sem acordo nos
dossiês-chave que dominam a atualidade europeia.Portugal
estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que ainda
antes do início da cimeira tem agendada uma reunião de trabalho com o
secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, de manhã, no ‘quartel
general’ da Aliança Atlântica, em Bruxelas.