Líderes da UE discutem hoje plano de retoma ainda sem acordo à vista
Covid-19
23 de abr. de 2020, 09:55
— Lusa/AO Online
Quase um mês depois após a anterior
cimeira (26 de março), marcada por fortes desavenças sobre como a Europa
deve responder à crise, e no fim da qual os líderes se limitaram a
mandatar o Eurogrupo a prosseguir os trabalhos, os líderes da UE voltam a
reunir-se por videoconferência, desta feira já com propostas concretas
sobre a mesa acordadas pelos ministros das Finanças sobre a resposta de
emergência, num pacote com um montante global de 500 mil milhões de
euros, mas com o grande plano de reconstrução ainda em aberto.Os
líderes europeus deverão adotar o pacote de emergência acordado pelos
ministros das Finanças, constituído por três “redes de segurança”: uma
linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade, através da quais
os Estados-membros podem requerer até 2% do respetivo PIB para despesas
direta ou indiretamente relacionadas com cuidados de saúde, tratamentos e
prevenção da covid-19, um fundo de garantia pan-europeu do Banco
Europeu de Investimento para empresas em dificuldades, e o programa
«Sure» para salvaguardar postos de trabalho através de esquemas de
desemprego temporário.No entanto,
relativamente ao fundo de recuperação, que o comissário europeu da
Economia, Paolo Gentiloni, estima que tenha de ascender a pelo menos o
duplo do montante da resposta de emergência, ou seja, 1 bilião de euros -
valor que parece reunir consenso generalizado -, o Eurogrupo ‘passou a
bola’ de novo aos chefes de Estado e de Governo, cabendo a estes definir
os moldes e envergadura do mesmo, pelo que se adivinha nova discussão
acesa em sede de Conselho Europeu, já que persistem as diferenças entre
os 27 sobre como financiar tal plano para contrariar a forte recessão
que se adivinha este ano (na ordem dos 7,5% na zona euro e 7,1% no
conjunto da União, segundo estimativas do Fundo Monetário
Internacional).As ideias para já são
muitas, desde a emissão conjunta de dívida, os chamados ‘eurobonds’ ou
‘coronabonds’, que Itália continua a reclamar (mas que países como
Alemanha e Holanda rejeitam liminarmente), aos ‘recovery bonds’
propostos pelo Parlamento Europeu (títulos de dívida emitidos pela
Comissão Europeia e garantidos pelo orçamento comunitário), passando
pelo fundo de 1,5 biliões de euros financiado pela emissão de divida
perpétua sugerido por Espanha.Já Portugal
defende que o plano de recuperação da economia europeia deve ser parte
do orçamento europeu, financiado por um empréstimo a contrair pela UE
distribuído pelos Estados-membros sob a forma de subvenções.“Portugal
inclina-se naturalmente para todas as soluções que permitam não
sobrecarregar os Estados-membros com dívidas excessivas”, declarou esta
semana o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva,
defendendo que “seja a própria União Europeia a contrair o empréstimo
indispensável para alavancar esse fundo”, para que todos possam
beneficiar das “condições excelentes” da UE para se financiar.Também
o presidente do Eurogrupo, o ministro das Finanças português Mário
Centeno – que participará igualmente na videoconferência de quinta-feira
-, defendeu na terça-feira, perante o Parlamento Europeu, que os
Estados-membros devem deixar as “velhas linhas vermelhas” e
concentrarem-se em acordar uma “solução comum” para gerir o peso da
dívida associado plano de recuperação da economia europeia. Na
carta-convite dirigida aos líderes, o presidente do Conselho Europeu
exorta os 27 a adotar o pacote de emergência acordado pelo Eurogrupo, de
modo a que as três “redes de segurança” estejam já operacionais o mais
tardar em 01 de junho, e quanto ao fundo de recuperação propõe que seja
dado um mandato à Comissão Europeia “para analisar as necessidades
exatas” e apresentar em breve uma proposta “à altura do desafio”.Segundo
Charles Michel, “a proposta da Comissão deve clarificar a relação com o
Quadro Financeiro Plurianual [o orçamento da UE para 2021-2027], que
estará sempre no cerne da contribuição da UE para a recuperação e que
terá de ser ajustado para lidar com a atual crise e as suas
consequências”.“É fundamental que
discutamos estas questões de forma aberta entre nós e avancemos com
sentido de urgência […] É minha convicção que devemos mostrar ainda
maior determinação em superar as nossas diferenças”, escreve o
presidente do Conselho, numa clara alusão às divergências profundas que
se registaram nas últimas cimeiras, designadamente entre os países
‘frugais’ e os ‘amigos da coesão’, e entre os Estados-membros do norte e
do sul da Europa.A cimeira por
videoconferência, na qual Portugal estará representado pelo
primeiro-ministro António Costa, tem início agendado para as 15h00 de
Bruxelas (13 horas nos Açores).