Líderes da NATO reúnem-se com “caráter simbólico” mas sob “pressão” para fazer mais
Ucrânia
23 de mar. de 2022, 16:24
— Lusa/AO Online
Em
declarações à agência Lusa, o presidente da Comissão de Defesa Nacional
da Assembleia da República, Marcos Perestrello (PS), frisou que cimeira
de líderes da NATO tem “como objetivo principal afirmar a unidade da
Aliança em torno desta crise que se está a suceder na sua fronteira
leste”.“É uma cimeira que tem sobretudo um
caráter simbólico. (…) A Aliança quer sobretudo reafirmar que está
unida em torno dos seus objetivos essenciais, que é uma aliança
defensiva - que, como já afirmou, não tenciona entrar diretamente em
combate em território ucraniano - mas que está firmemente empenhada em
defender o seu território e que não admitirá ataques a Estados-membros
da Aliança”, disse. A deputada do PSD Ana
Miguel Santos, que integra também a Comissão de Defesa Nacional,
realçou o “sinal muito importante” que representa a vinda, em altura de
conflito, do Presidente dos Estados Unidos à Europa.No
entanto, Ana Miguel Santos destacou a “forte pressão” sobre os líderes
da NATO “para anunciar algo”, feita designadamente pelos “ucranianos e
países limítrofes com a Ucrânia”, visando um “tipo de resposta mais
armada e não tão política”.A
social-democrata atenuou as esperanças nesse domínio, considerando que
tanto o direito internacional, como a memória “muito fresca” da “saída
abrupta” das tropas da Aliança do Afeganistão, obstaculizariam uma
resposta mais armada por parte da NATO”, que se deverá manter a opção
pelo fornecimento de material militar.“Eu
não acredito que a NATO, por muita vontade que tenha, consiga neste
momento intervir. O que a NATO está a fazer neste momento é a
salvaguardar as suspeitas e os receios dos países que integram a NATO e
que estão próximos da Ucrânia e que se sentem ameaçados”, afirmou.Apesar
dos apelos da Ucrânia para a criação de uma zona de exclusão aérea
sobre o seu território, Marcos Perestrello sublinhou que a NATO “tem
dito que não está disponível para entrar em combate direto”, uma postura
que, estima, não deverá sofrer “uma mudança” nesta cimeira.“A
NATO tem procurado evitar a escala do conflito e a subida do conflito
para patamares não convencionais de combate, designadamente para o
patamar de armas químicas e para o patamar de armas nucleares. A NATO
tem feito um esforço para evitar essa escalada e, portanto, também tem
entendido que não deve entrar em combate direto”, recordou.Fora
da esfera militar, a China deverá também ser motivo de discussão por
parte dos líderes da NATO, numa altura em que os Estados Unidos acusam a
Rússia de ter pedido apoio militar e financeiro a Pequim e afirmam que
os chineses mostraram alguma abertura a essa opção.Na
ótica de Ana Miguel Santos, os líderes da NATO poderão adotar uma
“resposta mais robusta” contra Pequim, designadamente do ponto de vista
económico, “procurando que a China deixe o seu lado neutral e force
Moscovo e Putin a ter um outro tipo de reação”.“Eu
julgo que poderá haver aqui – e esta tem sido muito a estratégia – uma
tentativa de neutralizar o Putin secando-o economicamente e pela via
política, pelos seus aliados. No fundo, todos estão interligados com a
Europa, e dependentes da Europa e do mercado americano”, frisou.No
mesmo sentido, Marcos Perestrello sublinhou que “a preocupação da
Europa e a preocupação dos Estados Unidos não é propriamente afastar a
China, mas, pelo contrário, aproximá-la, procurando evitar que a China
se alie à Rússia neste conflito e alertando para as consequências que
daí adviriam”.Após a cimeira com a NATO,
Biden irá participar na cimeira do Conselho Europeu e dos líderes do G7,
antes de, na sexta-feira, se deslocar à Polónia. No entender de Marcos
Perestrello, a deslocação do Presidente norte-americano “tem um caráter
fortemente simbólico” dado que a Polónia “é, dos Aliados, aquele que
está a sofrer mais pressão”.Ana Miguel
Santos interroga-se se, além da visita à Polónia, Biden irá também pisar
solo ucraniano, à imagem de ações simbólicas feitas por antecessores,
como a visita de Donald Trump à zona desmilitarizada entre as Coreias do
Norte e do Sul, em junho de 2019.“Eu
diria que essa é a grande questão que se está a colocar e a grande
expectativa que se coloca também olhando para o facto de que é a
primeira vez que, no âmbito desta guerra, desta invasão, o Presidente
dos Estados Unidos pisa o solo europeu”, frisou.