Líder do BE/Açores entrega queixa à Provedoria de Justiça sobre exclusão de imigrantes
18 de dez. de 2024, 16:09
— Lusa/AO Online
“Esta
situação deve ser resolvida já e consideramos que a senhora provedora de
Justiça tem aqui um papel importante. Tem nas suas atribuições apreciar
as queixas, as injustiças – é essa a letra da lei que está na
Constituição – e essa é uma questão de injustiça que importa
urgentemente resolver”, afirmou António Lima, em declarações aos
jornalistas, após a entrega da queixa na extensão da provedoria em Angra
do Heroísmo.No documento, António Lima lembra que desde 08 de novembro é recusado o
acesso ao subsídio de mobilidade (atribuído nas viagens entre as regiões
autónomas e o continente) a imigrantes naturais de países de fora da
União Europeia ou sem acordo de livre circulação no espaço europeu,
apesar de terem estatuto de residente de longa duração e autorização de
residência permanente nos Açores ou na Madeira.“Tal
recusa tem-se baseado numa alteração de interpretação da lei que, salvo
melhor opinião, configura uma evidente violação do princípio da
equiparação entre cidadãos nacionais e estrangeiros residentes
legalmente previsto no artigo 15.º da Constituição da República
Portuguesa”, alega o líder do BE/Açores, na queixa apresentada.António
Lima salienta ainda, no documento, que não ocorreu qualquer alteração
legislativa e que desde a entrada em vigor dos diplomas que regulam a
atribuição do subsídio social de mobilidade, há nove anos, o subsídio
sempre foi pago aos cidadãos imigrantes com contrato de trabalho e
residência legal na Madeira e nos Açores, independentemente da sua
nacionalidade.Em declarações aos
jornalistas, o líder regional do BE, que entregou a queixa em nome
individual, considerou “absolutamente incompreensível” que o Governo da
República, “com uma interpretação nova da lei e da Constituição”, exclua
imigrantes do subsídio social de mobilidade “apesar de serem residentes
há mais de seis meses, de terem a sua situação regularizada, de
trabalharem, fazerem os seus descontos e pagarem os seus impostos em
Portugal”.“É mais uma deriva por parte do
PSD e do CDS no Governo da República contra as pessoas que estão a
trabalhar em Portugal que são de outros países e uma deriva que leva a
uma aproximação cada vez mais evidente à política da extrema-direita. [O
primeiro-ministro] Luís Montenegro diz que não quer conversas com a
extrema-direita, mas na verdade começa, em muitas áreas, a aplicar a sua
política”, acusou.Na semana passada, o
parlamento açoriano aprovou, por unanimidade, uma anteproposta de lei,
apresentada por PSD, CDS-PP e PPM, que integram o Governo Regional, para
que todos os imigrantes residentes sejam incluídos no subsídio social
de mobilidade.O dirigente do BE defendeu,
no entanto, que é preciso “pressão política”, para que o problema seja
resolvido no imediato e retroativamente.“Nós
votámos a favor dessa anteproposta, mas ela demorará provavelmente
alguns meses, na melhor das hipóteses, na Assembleia da República, isso
se for aprovada. Entretanto, já foram pessoas prejudicadas e continuam a
ser prejudicadas. Aquilo que é preciso é que o Governo da República
mude a sua interpretação da Constituição, porque a Constituição diz
claramente que os residentes em Portugal, cidadãos estrangeiros, gozam
dos mesmos direitos”, apontou.António Lima
disse esperar que a provedora da Justiça possa emitir recomendações
sobre este caso, alegando que “pode ser uma forma também de dizer ao
Governo da República que isto não pode continuar”.“Para
alguém que estava a contar receber um reembolso de 200, 300 ou 400
euros não o receber é muito grave. E alguém que precisava de se deslocar
para o continente agora provavelmente não consegue, porque não tem
direito ao subsídio social de mobilidade, com os preços que se praticam
nesta altura do ano”, alertou.