Líder da Fenprof acusa Governo de "estoirar" com corpo docente em Portugal
14 de out. de 2019, 13:10
— Lusa/AO Online
"O corpo docente está
envelhecido, desgastado, com muitos profissionais em situação de stress e
de ‘burnout' (exaustão profissional), e o que estão a fazer aos
professores é para acabar de vez com o corpo docente", disse Mário
Nogueira, em conferência de imprensa, para apresentar a greve ao
trabalho extraordinário a partir de hoje.Segundo
o dirigente sindical, o excesso de trabalho tem-se agravado e "podem
[os governantes] reconhecer que os mais velhos deixem de ter tanto
trabalho direto com os alunos, tantas aulas, mas se fizerem isso quem é
que está lá para dar aulas".Pelas contas
de Mário Nogueira, nos últimos "10 a 12 anos" registou-se uma redução do
número de professores superior a 30%, enquanto o decréscimo no número
de alunos foi na ordem dos 12 a 15%."Diria
que, nesta altura, no conjunto das escolas do país e do continente
talvez faltem, eventualmente, 15 mil professores, para que as escolas
tivessem capacidade de responder", estimou.O
dirigente acusa a tutela de, nos últimos anos, "tomar medidas
deliberadas para reduzir o número de professores, que os docentes ao
serviço, mais velhos, muitos deles com sessenta e muitos anos, hoje têm
um horário que é agravado"."A
irresponsabilidade desta gente deixou chegar isto a um ponto que é
absolutamente inacreditável, porque a desvalorização dos professores, os
ataques, as campanhas junto da opinião publica contra os professores
naturalmente afastou os jovens e alguns menos jovens que já estavam na
profissão", enfatizou Mário Nogueira.A
greve dos professores ao trabalho extraordinário regressa hoje às
escolas, sem data para terminar e com a possibilidade de comprometer as
avaliações intercalares dos alunos, alertam os sindicatos que pedem o
cumprimento do horário de 35 horas semanais.Os
sindicatos alegam que a construção dos horários dos professores é
ilegal, por impor um acréscimo de cerca de 30% às 35 horas semanais
aplicáveis à generalidade da administração pública e também
especificamente aos professores, conforme estabelece o Estatuto da
Carreira Docente.Pouco depois do arranque
do ano letivo, os sindicatos retomam assim uma greve que transita do ano
letivo anterior e que não tem data para terminar.Aos
jornalistas, o líder da Fenprof disse que se o ministro da Educação do
novo Governo for o mesmo [Tiago Brandão Rodrigues] a greve "vai
manter-se até ao final do ano"."Esta
equipa ministerial e este ministro têm sido incapazes de dar resposta
aos problemas, de os enfrentar e de ter uma solução. Se mudar para
alguém que esteja preocupado com os problemas e os queira resolvemos nós
iremos reunir e esperar uma resposta, que se for positiva levará ao
levantamento da greve", frisou.Mário
Nogueira considerou que se o próximo Governo nomeasse o atual ministro
da Educação para o cargo "seria uma afronta e uma provocação aos
professores", devido à "irresponsabilidade com que encarou estes
problemas, quando já estavam identificados, e ainda os agravou"."Seria
começar da pior forma manter na Educação alguém incapaz de quase tudo,
de dialogar, de negociar, de reconhecer os problemas, de os enfrentar,
pois quando eles apareciam o senhor ministro desaparecia", disse o
secretário-geral da FENPROF.O pré-aviso de
greve, que entra hoje em vigor, foi entregue ao Ministério da Educação
na passada segunda-feira, por 10 estruturas sindicais, e pressupõe que
os docentes possam fazer greve a trabalho extraordinário como as
reuniões intercalares de avaliação dos alunos, sempre que estas sejam
marcadas fora do horário semanal de 35 horas."Este
pré-aviso de greve destina-se a garantir que o horário semanal dos
docentes seja efetivamente de 35 horas e não mais, bastando, para tanto,
que os professores façam greve sempre que lhes for atribuída atividade
que faça exceder, em cada semana, aquele número de horas de trabalho",
explicou Mário Nogueira.A greve incide
sobre reuniões de avaliação, reuniões de preparação e coordenação de
trabalho letivo, secretariado de provas de aferição e exames, ações de
formação, coadjuvação de aulas ou apoio a alunos, entre outras
atividades, sempre que estas sejam marcadas fora do horário de 35 horas.