Líder da Fábrica de Tabaco Micaelense alerta que nova lei penaliza pequenas empresas
18 de mai. de 2023, 10:52
— Lusa/AO Online
“Esta
opção, na nossa perspetiva, é penalizadora de muita gente. Há muitas
pequenas empresas que tem parte do seu negócio alicerçado no
funcionamento das máquinas de venda e há muitos empregos associados a
este processo de comercialização”, afirmou Mário Fortuna à agência Lusa.Segundo
uma proposta de lei do Governo da República, a venda de tabaco em
máquinas automáticas vai ser proibida em 2025 e ainda este ano será
interdito fumar nos espaços ao ar livre junto de edifícios públicos como
escolas, faculdades ou hospitais.Caso a
proposta seja aprovada pela Assembleia da República, deixa de ser
possível a venda de tabaco direta ou através de máquinas de venda
automática em locais como restaurantes, bares, salas e recintos de
espetáculo, casinos, bingos, salas de jogos, feiras, exposições.O
também professor de Economia da Universidade dos Açores alertou que a
proposta é “anacrónica”, uma vez que vai “muito mais além” da diretiva
europeia que está a ser transposta para os países da União Europeia.“Esta medida é um pouco anacrónica relativamente àquilo que está a acontecer na Europa”, assinalou.O
presidente do conselho de administração da FTM, tabaqueira que emprega
cerca de 100 trabalhadores distribuídos pelos Açores e Madeira, prevê um
“impacto bastante grande” caso a iniciativa entre em vigor, lembrando
que o diploma atual “nem autoriza as bombas de gasolina a vender
tabaco”.“Naturalmente que, desaparecendo
as 50 mil máquinas de venda a nível nacional, tem uma implicação
bastante grande para quem investiu e trabalha nessas áreas. Vão
desaparecer muitos postos de trabalho que hoje estão ocupados na
distribuição e vão reduzir-se substancialmente e drasticamente os pontos
de venda”, afirmou.Mário Fortuna, que
também preside à Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada,
detalhou que o setor representa uma receita fiscal de 1400 milhões de
euros a nível nacional.Nos Açores, a
receita proveniente do tabaco situa-se em “mais de 50 milhões de euros” e
na região devem existir cerca de três a quatro mil máquinas de venda
automática, disse.“A proposta na
generalidade, com aquilo que tem vindo a público, é um pouco estranha na
medida em que não se prossegue o objetivo específico de informar as
pessoas relativamente às implicações do tabaco, mas limita-se, de uma
forma que não prevíamos, a comercialização”, assinala.O
líder da FTM, fundada em 1866, realça que “uma coisa é a informação”
acerca de um produto e “outra coisa é condicionar a chegada ao mercado”.“Estamos
habituados a uma economia de mercado onde os comerciantes e a economia
resolvem a comercialização. O que o governo está a fazer é a
regulamentar de forma peculiar a venda de tabaco”, afirmou.Mário
Fortuna ressalvou, contudo, que a proposta “é uma incógnita” porque
ainda “não se conhece o detalhe”: “No pormenor é que vão estar os
aspetos importantes”, concluiu.A 11 de
maio, o Conselho de Ministros aprovou diversas alterações à lei do
tabaco, equiparando cigarros eletrónicos ao tabaco normal e criando
restrições à venda e consumo, com o ministro da Saúde a sublinhar que é
preciso “ir mais longe”.